Autores de São Vicente são referência no Dia Mundial do Livro Infantil

Data é comemorada neste sábado (2). Cinco professores e professoras da rede municipal têm publicações voltadas aos pequenos, uma delas com presença confirmada na Bienal de São Paulo

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Uma frase da ativista paquistanesa Malala Yousafzai ensina que “uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”. Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2014, quando tinha apenas 17 anos, Malala sintetiza a relevância da leitura na preparação de uma criança para a vida adulta, sem ignorar a participação do professor nesse processo.
 
Tal constatação demonstra que o acesso a obras literárias pode (e deve) se dar antes mesmo da alfabetização de uma criança. Tamanha importância merece até uma data mundialmente dedicada para a relação entre a leitura e os pequenos, o Dia Internacional do Livro Infantil, comemorado neste sábado (02/04).
 
Em São Vicente, onde educação e leitura caminham juntas, cinco professores da Cidade dedicam-se a esta gratificante tarefa - quatro deles com títulos já publicados.
 
Docente da rede municipal há 15 anos, a psicopedagoga Damiana Albuquerque lançou em 2020 “Nem toda menina gosta de cor-de-rosa” (com ilustrações de Edlayne Martins) e “Cacal e Gigi em A Linguagem do Coração” (numa parceria com Reginaldo Bombini). Os dois livros tratam de forma bem pertinente dois assuntos nessa fase inicial da vida: reflexões sobre as diferenças de gênero e a Comunicação Não Violenta (CNV). Por sinal, as publicações apresentam o ineditismo de serem as primeiras obras nacionais para crianças abordando a CNV. 
 
Damiana ressalta que, mais que uma simples história, o livro funciona como um gatilho sensorial. “Por meio da leitura, incentivamos nas crianças o desenvolvimento da ‘escuta ativa’, estimulando habilidades socioemocionais essenciais para a vida adulta, como atenção plena, resolução de conflitos de forma pacífica, empatia e muitas outras”, destaca a pedagoga, completando que ler ainda possibilita a criança “a se conectar com sentimentos e um universo rico imaginário”.
 
Outra autora com DNA vicentino é Regina Travassos, com cinco livros publicados – sendo três voltados ao público infantil. “O objetivo é dar a oportunidade de uma pré-alfabetização e alfabetização lúdica para as crianças”, detalha a professora de Artes, que mora desde os 6 anos em São Vicente e há 25 anos integra o quadro da rede municipal de ensino. 
 
Em ‘Contos de Malecon’, de 2013, Regina retrata situações vivenciadas com os seus três filhos, Marina, Leonardo e Conrado. No ‘Mundo das Letrinhas’, de 2018, imaginação prevalece, falando de monstros, citando cuidados com o meio ambiente e inserindo as vogais, sempre com interativadade. “Foi a maneira que encontrei para chamar a atenção de nossos pequenos e pequenas de uma forma divertida”. Já ‘Sonhando com as Letrinhas’, lançado em 2021, durante a pandemia, ela segue nesta linha de sonhos e trabalha o alfabeto todo, finalizando a leitura com uma atividade para a criança construir uma palavra. Este último terá espaço na Bienal do Livro de São Paulo, em julho, com tarde de autógrafos no estande da editora Autografia.
 
Mergulhada no universo escolar como professora em São Vicente, Vânia Andrade também é nome confirmado na Bienal. Ela dedica parte de seu tempo à literatura infantil, tendo escrito ‘Árvore do Sucesso’ (que nasceu na sala de aula da EMEF Raul Rocha, durante o projeto Estante Mágico, em 2019), ‘O Botão da Alegria’ (escrito e publicado em meio à pandemia, como uma válvula de escape de todos os transtornos vivenciados pela Covid-19) e ‘O cofre Lelecão - Uma história rimada e cheia de aventura’ (que aborda a educação financeira de um jeito descontraído e inspirador).
 
“A maior herança que podemos deixar para as nossas crianças é o gosto pela leitura e para que as crianças tenham esse gosto, é importante que o incentivo aconteça desde o barrigão da mamãe”, define Vânia. Para ela, os livros infantis têm uma infinidade de benefícios e influenciam de maneira significativa no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança. ”Como mãe de uma criança (Bernard, de 5 anos) que ama histórias, eu reitero que os livros infantis são fundamentais para que os pequenos compreendam o mundo a sua volta de uma forma mais leve, mais descontraída e com mais significado”, conta a pedagoga, que carrega em seu currículo a formação em Artes Visuais e pós em Educação Especial e Arte Educação.
 
ESCRITOR – Os homens também têm representatividade neste grupo de escritores. Licenciado e bacharel em Geografia com Ênfase em Análise Ambiental, Clayton Diogenes Ribeiro tem três livros voltados ao público infantojuvenil: ‘A Brilhante História de Ana Clara e o Menino dos Sonhos’ (ficção destinada principalmente ao público adolescente, ‘Poeminha para ler e pintar’ (escrito em parceria com Michel Leite Viana) e ‘Poeminhas para Ler e Pintar 2’ (com lançamento previsto para este ano).
 
Lançada em 2018, ‘Poeminhas’ é uma obra destinada a crianças na faixa dos 3 anos, com poemas curtos e ilustrações para colorir. Atualmente diretor da EMEIEF Gilson Kool Monteiro (Vila Nova São Vicente), Clayton conta que a ideia surgiu do gosto comum em ler e escrever versos e das discussões da importância da leitura para ao intelecto da criança por meio dos textos e desenhos. “A prática leitora pode aproveitar a gigante plasticidade cerebral da criança, inclusive para motivar longas viagens pelo mundo da imaginação”, finaliza o professor, que também é pedagogo, pós-graduado em Educação e Sociedade, mestre em Educação e trabalha como Professor e Diretor de Escola.
 
SEGUIDORES DA LEITURA – Com 519 publicações, o perfil do Instagram CaRa Leitura (@caraleitura) une amantes do universo literário, promovendo a literatura infantil por meio de encontros, saraus e mediação de livros. Sua idealizadora é Raquel Vieira, professora da EMEF Renan Alves Leite (Vila Melo). Pedagoga há mais de 20 anos, 15 dos quais atuando em São Vicente, ela crava que sua preocupação é sempre estimular os alunos para uma leitura literária de qualidade.
 
“Embora ame escrever (arranho umas coisas que as pessoas às vezes gostam e compartilham), ainda não há projetos efetivos de escrever um livro”, adianta.
 
“Minha atuação é mais em mobilizar professores e as próprias crianças pra importância da literatura... não qualquer leitura, mas a literária, que é arte”, define, citando um conceituado acadêmico dessa área. “Primo pela leitura a qual Antônio Cândido se referia: a que todo sujeito se humaniza.
É dessa literatura que sou partidária. Leio para os meus alunos todos os dias e não abro mão desse momento”. 
 
DESENVOLVIMENTO - Responsável pelo Núcleo da Primeira Infância da Seduc, Elaine Dellamonica, destaca que levar a leitura à vida de uma criança é o mesmo que apresentar o mundo por meio do encantamento das histórias. “O livro infantil deve fazer parte da vida desde o nascimento. Sua exploração e a apreciação de histórias contribuem para o desenvolvimento da criatividade, despertando a imaginação, ampliando o vocabulário, descobrindo novos mundos...”, afirma, lembrando que ler desde cedo contribui no desenvolvimento escolar. “O contato com o mundo leitor enriquece a construção das habilidades e facilita a aquisição das competências cognitivas e socioemocionais”.
 
PARTICIPAÇÃO FAMILIAR - Muito se fala da importância do livro infantil na vida da criança. Mas será que os adultos que convivem com ela se dão conta do valor que têm o seu exemplo como leitor diante dela? “Sabemos que a participação da família é de suma importância, pois pais que leem para seus filhos desde cedo contribuem para o desenvolvimento emocional e social dos pequenos”, aponta a assessora pedagógica de Língua Portuguesa da Seduc de São Vicente, Eliana Carla Capriello.
 
A professora salienta que, ao folhear um livro infantil, a criança que ainda não foi alfabetizada tem a possibilidade de observar as gravuras, e nelas as suas cores e formas, os detalhes que a leva para uma compreensão particular e assim, iniciar o processo da leitura.  “Já a criança em processo de alfabetização ou alfabetizada tem no livro infantil acesso direto ao mundo imaginário e cheio de criatividade, através das histórias como as fábulas ou contos de fadas”, completa.
 
Além disso, acrescenta, a leitura desenvolve o senso crítico e a habilidade interpretativa, amplia o vocabulário, promove maior conhecimento ortográfico, favorece acesso a informações aumentando o conhecimento, desenvolve a criatividade e a facilidade na escrita de textos. Além de ser recreativa, por ser prazerosa e dinâmica, desenvolve a imaginação pois mexe com as emoções e sentimentos humanos. Proporcionando assim, um desenvolvimento social, emocional e cognitivo do ser.
 
“É de grande importância que, tanto nos lares quanto nas escolas, a criança tenha acesso ao livro infantil e a uma rotina de leitura, oferecendo um tempo em seguida, para uma roda de conversa, a fim de que possa falar sobre o que entendeu do texto lido, expor suas emoções e sentimentos e assim, mostrar seu senso crítico e visão de mundo em formação. “Como afirmou a escritora e pedagoga Fanny Abramovich, quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo”.
 
Texto – Renato Pirauá
Fotos – Cynthia Rocha e Rafael Damaceno

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