Estátua de Martim Afonso passa por restauro; documentos e mapas foram encontrados em estado de deterioração

 

Preservar o patrimônio histórico é preservar a cultura de um povo e perpetuar os valores para as próximas gerações, garantindo a sensação de pertencimento, fundamental em um mundo cada vez mais globalizado.

 

Como primeira cidade do Brasil, São Vicente guarda um acervo riquíssimo, com equipamentos culturais, documentos, estátuas e monumentos que ajudam a contar a história da Cidade e do País, mas que há anos não recebem a devida atenção das autoridades, com risco de se perderem pela ação do tempo e do vandalismo.

 

Um exemplo disso é a estátua de Martim Afonso de Sousa, fundador da Cidade, logo na entrada da Casa Martim Afonso, ponto turístico inaugurado em 2000. A obra de arte estava abandonada. “O trabalho de restauro era necessário e urgente, pois a estátua estava prestes a cair, com as pernas perdendo sustentação. Estavam com rachaduras e algumas partes estavam presas com fita adesiva”, explica o artista Rodrigo César, o Bola, responsável pela recuperação da escultura, que foi retirada e atualmente passa por todo o processo de restauro.
 

                         
 

 

Este caso não é o único. A Secretaria de Cultura (Secult) fez um levantamento de todos os monumentos e estátuas da cidade, pois o objetivo é, além de revitalizá-los, propor atividades que tragam maior interação com a comunidade. “É preciso que os vicentinos, e os turistas também, conheçam a importância de cada personalidade representada nas estátuas, assim como o que representa cada monumento, para tomar ciência da importância histórica e cultural de cada um deles”, conta a secretária de Cultura, Elizângela Nobre Bafini. 

 

Elizângela também fala com preocupação sobre o estado em que muitos materiais foram encontrados. Segundo ela, foram encontrados documentos e mapas antigos da Cidade em total estado de deterioração que, se permanecessem por mais um ou dois anos armazenados daquela forma, logo grande parte da documentação histórica de São Vicente seria perdida. “É lastimável o estado em que todo este acervo foi encontrado. O descaso, e até mesmo o mau armazenamento, acarretaram na perda de grande parte de um acervo artístico doado para o Município. É uma perda de valor inestimável. Até mesmo as placas de bronze foram retiradas dos monumentos durante o ano passado e não foram devolvidas à municipalidade. Onde estavam os profissionais responsáveis por zelar pelo patrimônio histórico da cidade?”, indaga a secretária. 

 

Nos próximos meses, a Secult iniciará tanto a recuperação da documentação, quanto o restauro do acervo das obras de Benedito Calixto. Atualmente, a secretaria realiza estudos para reformar a Casa Martim Afonso e da Vila de São Vicente.

 

Fake News

 

Recentemente, um jornal da região publicou reportagem em que uma pessoa contesta a forma como a estátua de Martim Afonso está sendo restaurada, dizendo que o método utilizado não seria adequado. 

 

Para isso, é importante ouvir outros profissionais da área para entender o processo. O artista plástico Gaspar Mariano, autor de diversas esculturas em São Vicente, entre elas a que retrata Zumbi dos Palmares, no Horto Municipal, explica que a estátua de Martim Afonso foi feita em resina poliéster, que tem vida útil de mais ou menos seis anos. Porém, a estrutura já tem mais de 20 anos e está bastante deteriorada, pois sofreu muitas ações do tempo. “As paredes da escultura já estão frágeis e o trabalho de reestruturação é complexo. A técnica que o Bola está utilizando é perfeitamente adequada e não está errada, pois ele não está alterando as linhas originais da obra”, explica Gaspar. Segundo o artista, diante da situação encontrada, a outra alternativa seria fazer a restauração por dentro da escultura, o que tornaria o serviço muito caro. “Sairia em torno de R$ 60 mil, o preço que custaria uma nova estátua por um artista profissional. Como o intuito é prolongar um pouco mais a vida útil da obra, a utilização da fibra de vidro é a alternativa certa”, conclui. 

 

Conhecendo a Casa Martim Afonso 

 

Localizada na Praça 22 de Janeiro, a Casa Martim Afonso reúne a Casa do Barão de Paranapiacaba, título de Rafael Tobias de Aguiar Barros, que ergueu o imóvel em 1895, uma sala para mostras, o Sítio Arqueológico Bacharel, que tem como atrativo uma parede datada do século 16, erguida antes mesmo da chegada de Martim Afonso, sendo considerada a primeira fortificação da cidade e também do Brasil. Além desta construção histórica, a casa possui diversos artefatos e peças arqueológicas coletadas na escavação do sítio. No local, foram encontrados vestígios de sambaqui com idade de dois a três mil anos, cerâmica tupi de aproximadamente 800 anos e vestígios de ocupação européia do século XVI ao XX.  

 

Em fevereiro, o local recebeu um grande mutirão de limpeza. Os funcionários da Secretaria de Cultura (Secult) arregaçaram as mangas e vários serviços foram feitos, como limpeza de calhas, roçagem e a própria manutenção da biblioteca.

 

Em razão da pandemia, o equipamento está fechado à visitação.

 

Denúncias

 

A Guarda Civil Municipal (GCM) realiza rondas constantes pela Cidade, com o objetivo de garantir coibir ações de vândalos em patrimônios públicos. Quem quiser pode denunciar atos de vandalismo pelo telefone 153.

 

 

Por: Peterson Gobetti