Comemorado no domingo (25), o Dia do Imigrante é celebrado por todos os cantos do maior país da América do Sul, conhecido pela receptividade a pessoas que adotam o Brasil como segunda pátria.
Em São Vicente, tal pluralidade é notória, também, no universo escolar, com um professor e vários alunos estrangeiros integrando a rede municipal de ensino.
Nesta última reportagem, da série de quatro matérias que iniciamos na terça-feira (20), vamos apresentar a história da estudante de uma unidade educacional, do bairro Parque São Vicente, que é venezuelana e veio com a família residir no Brasil para tentar uma melhor oportunidade de vida, já que seu país de origem encontra-se em estado de crise econômica, política, humanitária e migratória.
Eu atravessava as negras colinas de um desconhecido país
verso de Juan Sánchez Peláez (1922-2003), poeta e diplomata venezuelano
Apesar da pouca idade, a “pequenã” Alana Vahyolette, 6 anos, já tem muita história para contar. Em 2021, a aluna da UE Matteo Bei 2 (Parque São Vicente) percorreu mais de 6 mil quilômetros com a mãe e a irmã caçula, partindo da Venezuela em direção ao Brasil. A ideia foi a de reencontrar o pai, Orlando Medina, 34, que já se encontrava em São Vicente (SP) havia dois anos.
O motivo foi o mesmo das outras personagens citadas nesta série: a busca por melhores condições de vida. “Não conseguia sustentar minha família lá, mesmo com quatro empregos”, conta Orlando, que atuava como técnico de segurança do trabalho. “Aqui, como motoboy, ganho muito mais”, desabafa.
Antes de chegar ao Brasil, de avião, o patriarca tentou a vida na Colômbia e no Equador. “Minha irmã já estava aqui e disse para eu arriscar também. Foi a melhor coisa que eu fiz. O Brasil me acolheu”. Já o caminho da esposa e das filhas foi bem mais árduo. “As três vieram pela fronteira. Foi perigoso, mas não tinha outro jeito”.
Alana - A mais velha das filhas, Alana Vahyolette, foi logo matriculada na rede municipal de ensino, na UE do Parque São Vicente. A primeira preocupação foi com o acolhimento. “Ela era super tímida, tinha muita vergonha de conversar. Chorava bastante, mas aos poucos foi interagindo. Todo dia eu sentava com ela, conversava e acalmava. Aos poucos ela foi cedendo e tendo mais segurança”, conta a professora Larissa Figueiredo. A dificuldade é justificável, diante de uma língua desconhecida. “Ela não falava uma palavra em português. A comunicação era complicada, mas tanto eu, quanto ela conseguimos aprender, juntas. Foi desafiador”, relembra a professora, destacando que, hoje, Alana entende a nossa língua.
Sobre o convívio com os colegas, a recepção foi natural. “As crianças a acolheram super bem, até entendiam um pouco do que ela falava. A linguagem do amor é universal, a brincadeira também”.
Agora, Alana terá a quem ensinar português: sua mãe, Guadalupe, está grávida e terá o primeiro herdeiro (ou herdeira) brasileirinho.
Texto - Mariana Pinho e Renato Pirauá
Foto - Tadeu Filho