#5 Dia do Escritor - Michel Leite retrata nos livros a realidade da Área Continental

Autor de 'Meu Nome é Periferia' e 'Geral no Parque' vê na leitura a possibilidade de fazer valer a cidadania

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O papel de um livro pode ser o de informar, divertir, assustar, elevar a autoestima, apresentar mundos paralelos entre tantas outras possibilidades. Responsável por mexer com a imaginação das pessoas, o escritor tem uma data comemorativa específica no Brasil. O dia 25 de julho foi instituído como o Dia Nacional do Escritor em 1960, com a realização do I Festival do Escritor Brasileiro, numa iniciativa da União Brasileira de Escritores (UBE).

 

Em São Vicente, professores e professoras da rede municipal têm motivos para festejar, com histórias publicadas para todas as idades. Afinal, é comum que a leitura de livros seja apresentada à criança no ambiente escolar - e quanto mais cedo, melhor. 

 

A última reportagem da série, que se encerra no Dia Nacional do Escritor, fala do lado autoral de Michel Leite Viana, professor de educação física da Unidade Educacional Mário Covas Jr, situada no Parque das Bandeiras, bairro onde foi criado e no qual vive até hoje. 

 

Alguns de seus livros, em parceria com o também professor vicentino Clayton Diógenes, são voltados ao público infantil. Já na literatura adulta, Michel expõe a realidade da Área Continental de São Vicente, apresentando personagens e lugares comuns da comunidade, retratados em “Geral no Parque” e “Meu nome é Periferia”.

 

Para o professor, o escritor precisa ser um observador do mundo e, antes de tudo, um leitor. “É preciso ler outros autores e encontrar uma identificação com essa leitura. Comecei dessa forma, e hoje leio clássicos como Shakespeare, Cervantes, Neruda… Mas para iniciar, aconselho uma literatura que se aproxime da realidade de quem lê, para se enxergar na história”, conta Michel, que iniciou a leitura tardiamente. “Comecei a escrever aos 28 anos - mesma idade que comecei a ler livros por prazer, e não por obrigação - depois que fui em um sarau de poesia, no Capão Redondo, em São Paulo. Até então eu achava poesia chato, mas ali as pessoas estavam poetizando a ‘pipa na laje’, o ‘esgoto a céu aberto’, o ‘abandono do estado’... Foi aí que eu pensei: isso eu sei fazer”.


Sua primeira experiência com a escrita foi por meio de poemas sociais, publicados em coletâneas como “Sarau Calunga” (desenvolvido durante projeto da EJA, em parceria com o colega Márcio Simões) e “Gotas de Vinagre”..


O romance “Meu Nome é Periferia” foi o divisor de águas. “É um livro que tenho poucos exemplares disponíveis para venda, e que me levou para outros estados brasileiros, com palestras em faculdades e sindicatos. Embora a história se passe na  Área Continental, as pessoas que moram em outros pontos do Brasil se identificam, porque fala sobre migrantes, normalmente da região Nordeste, que vêm para São Paulo para arriscar a vida e, muitas vezes, encontram um cenário pior do que tinham, indo morar em favelas, palafitas ou morros”, detalha. ‘Periferia’ é o apelido da personagem principal do livro, que vem para São Vicente ainda criança e passa por todos os percalços que um garoto de periferia passa: futebol na várzea, tráfico de drogas, contato com o crime… Nesse contexto, ele acaba preso e, na cadeia, começa a ler e entender como a sociedade funciona, com as armadilhas do sistema. “O livro, então, se torna a ferramenta de transformação na vida dele”.


Já “Geral no Parque” se passa no Parque das Bandeiras, com vários personagens reais, numa trama que mostra não só as dificuldades, mas também as alegrias por meio da música, do esporte, da religião e demais elementos captados da realidade para as páginas. 


Currículo - Nascido em Pindamonhangaba (SP), Michel viveu parte de sua infância na cidade de Parnamirim, no sertão central de Pernambuco. “Quando era menino, tive contato com a leitura, mas de forma oral, porque a minha avó contava histórias do cangaço, lendas da mata, de assombração e, inclusive, do mar, que eles sequer conhecem, mas se encantam muito. Alfabetizado em Pernambuco, veio com a família para São Vicente quando estava na segunda série. O motivo da migração: a esperança do pai por uma vida melhor.


Coincidentemente, Michel estudou na mesma escola onde dá aula, quando a unidade abrigava a EE Luiz D’Áurea, no mesmo prédio onde hoje fica a UE Mário Covas Jr. Após concluir a fase escolar, trabalhou como operário na construção civil e metalúrgico na Cosipa. Já formado em educação física, começou a lecionar em escolas públicas.
 


Por - Renato Pirauá

 

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