Muitas pessoas no mundo sofrem com preconceitos. Por conta de gênero, cor da pele, orientação sexual, local de nascimento ou deficiência. Para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) não é diferente. Além dos obstáculos, ainda existem as dificuldades de comunicação, expressão e de autonomia, comuns entre pessoas autistas.
Para o vicentino de nascença, Leonardo Dantas, nascido em 1990 e diagnosticado com TEA em 1993, não foi diferente. Na verdade, a família descobriu o transtorno em uma época onde pessoas com autismo ainda eram consideradas incapazes e sem perspectiva de futuro. Sua família escutou de seu próprio médico que ele jamais faria parte da sociedade.
Mas, ainda garoto, não tinha motivos para desistir. Com 4 anos, Léo aprendeu a ler e escrever sozinho, assistindo propagandas eleitorais na televisão e anotando os nomes e números dos candidatos.
Em 2004, ele ingressou na Associação Cascatinha para cursar desenho, onde começou a verbalizar os próprios sentimentos por meio da grafia. Alguns anos depois, começou a aprender técnicas de caligrafia por conta própria e se dedicar ao ambiente artístico.
Para consagrar a visão do artista, nesta quarta-feira (12), data em que comemora o seu aniversário de 33 anos, Léo teve a honra de apresentar seus melhores projetos na exposição "Gohayó - Alegorias e Multiletramento", justamente na São Vicente em que tanto ama. “Tenho orgulho de dizer que sou nascido e criado na Vila Cascatinha, em São Vicente. Estou honrado de apresentar aqui no Shopping Brisamar e na Cidade em que tanto amo”.
Leonardo fez questão de explicar cada uma de suas obras expostas para todos que estavam presentes. Ele também explicou o objetivo e o público alvo dos projetos. “Gosto de fazer arte para tocar as pessoas. Para uma criança ver e se inspirar, um casal ver e se apaixonar, para fazer com que elas entendam a si mesmas e assim poderem evoluir. Minha arte é voltada para todos, pois todos merecem respeito independente de qualquer coisa”.
Alessandra Dantas, irmã do Léo, se emocionou ao vê-lo apresentando suas obras. “O dia de hoje é um reconhecimento de todo esforço e talento dele. Ele sempre lutou muito desde o diagnóstico, mesmo tendo apoio só da família e buscando tratamento e ajuda em uma época em que ainda era muito difícil, por não existir conscientização. Fico feliz e emocionada por lembrar de tudo isso, como se um filme estivesse passando pela minha cabeça. Minha única tristeza é por nossos pais não estarem vivos para prestigiar”.
E no meio de tantas emoções, ainda houve tempo para um encontro de gerações. Leonardo teve a chance de explicar todas as suas obras para o Benjamin, garoto com TEA de apenas 6 anos de idade. Ele mora com a mãe, a manicure Liliane Rocha, que fez questão de trazer o filho apenas para ver a exposição. “Nós moramos na Vila Guilhermina, Praia Grande. Fiquei sabendo da exposição e trouxe ele. Esse evento é muito importante por mostrar que pessoas autistas podem chegar em grandes lugares, fazerem coisas importantes. Mostrar tudo isso para o meu filho significa o mundo, pois isso mostra que ele pode ser entendido e aceito”.
Liliane ainda compartilhou as experiências que têm na criação do seu filho. “Sou mãe solo, e nós dois sofremos muito com os julgamentos ao nosso redor. Julgam sem entender as dificuldades que mães atípicas passam para cuidar dos filhos”.
Prestigiando a apresentação, também estiveram presentes os secretários de Cultura, Alexandre Rodrigues, e de Direitos Humanos e Cidadania, Jackson Nunes. Leonardo os recebeu com uma arte especial, inspirada pela história deles.
A exposição foi prorrogada, e o público poderá visitar até dia 26 de julho, das 10h às 22h.
Por Roberto Filho