Além de abastecer a Baixada Santista, o Túnel do Voturuá guarda as histórias das mãos que os construíram. É o caso de Laércio Francisco de Lima, que participou da obra que contemplou o maior reservatório de água da América Latina.
Na construção, Laércio executava a função de apontador, profissional responsável por marcar cada etapa da obra, a hora exata da perfuração, a inserção da dinamite e a detonação. A obra foi iniciada em 1979, quando tudo era diferente. A tecnologia era limitada, e grande parte do trabalho era feito com as próprias mãos. Era um trabalho pesado e desafiador.
A rotina era intensa. O apontador enfrentou dificuldades, e lembra com emoção do dia em que, entrando na construção para marcar a hora da primeira viagem do caminhão, uma mangueira de ar se soltou com força. “Para mim, foi o dia mais marcante, lembro como se fosse hoje de precisar correr para que ela não me atingisse”, relembra Laércio.
Apesar das dificuldades, o ambiente de trabalho era marcado pela união entre os profissionais, que formavam uma verdadeira família, dividindo não só o esforço, mas, também, as risadas e histórias do dia a dia. “Se encontrar um dos meus colegas hoje em dia, eu me emocionaria imensamente”.
O túnel levou cerca de dois anos para ser construído, sendo inaugurado em 1981. Hoje, ainda em pleno funcionamento, ele abastece milhares de pessoas. Uma verdadeira conquista coletiva, construída tijolo por tijolo, com dedicação e orgulho. “Enquanto estive na obra, jamais imaginei que estava fazendo parte de algo tão grande, é uma satisfação tremenda”, relata com emoção o ex-apontador.
Mesmo após deixar o trabalho no túnel, o apontador seguiu sua jornada profissional por mais 30 anos trabalhando em construções. “Eu participei. Vi tudo acontecer. E fico feliz em saber que continua de pé, ajudando tanta gente”, ressalta Laércio.
Túnel Voturuá- Construído entre as décadas de 70 e 80, o Reservatório-Túnel Santa Tereza-Voturuá até hoje ostenta o título de “O maior da América Latina”. Em seus 1.100 metros de escavações, entre galerias e reservatórios no maciço rochoso que divide a ilha de São Vicente, apresenta túneis com 20 metros de altura (o equivalente a um prédio de seis andares) e 15 metros de largura. Em relação à água, são simplesmente 110 milhões de litros, o equivalente a 44 piscinas olímpicas cheias até a borda.