No Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, que é nesta sexta-feira (21), a professora da rede municipal de ensino de São Vicente, Cristina Aparecida Cirino, de 42 anos, compartilha sua trajetória de vida e ressalta a importância da representatividade negra na educação.
Filha de um pedreiro e de uma servente escolar, ela viu nos estudos a oportunidade de romper com um ciclo de dificuldades enfrentadas por sua família. Inspirada pelo exemplo de seu tio, o único parente que conseguiu concluir os estudos na vida adulta, ela sempre enxergou na educação um caminho de transformação social.
Mesmo sendo uma aluna dedicada, enfrentou lamentáveis episódios de racismo durante sua trajetória escolar. Apelidos pejorativos e discriminação por parte de colegas não a impediram de seguir em frente. “Eu nunca abaixei a cabeça”, afirma. Ao perceber que a educação poderia ser um instrumento de resistência, decidiu atuar na escola pública para incentivar outras crianças negras a acreditarem em seus sonhos.
Hoje, seu trabalho se soma às iniciativas do Procor (Programa ‘Somos Muitas Cores’), projeto da Secretaria de Educação (Seduc) que busca garantir equidade e consciência racial nas escolas municipais. O programa, idealizado pela Secretária de Educação, Nivea Marsili, se deu diante de um caso de racismo em uma das unidades educacionais, em 2022. Entre as principais ações, estão a implementação do Protocolo de Combate às situações de Racismo, a elaboração de materiais pedagógicos, como palestras e campanhas, discussões sobre letramento racial, lugar de fala, garantia de direitos e educação antirracista.
Para ela, a presença de professores negros na rede de ensino é essencial para fortalecer o senso de pertencimento dos alunos pretos e pardos. “Desde cedo, aprendi que não podia me dar ao luxo de errar. O que para uns é um equívoco, para nós é uma sentença”, desabafa.
Mesmo diante dos desafios, Cristina reforça a importância da educação na luta antirracista. “Cada estudante negro que avança na escola é um ato de resistência”, conclui.
A Secretária de Educação, Nívea Marsili, ressalta a importância da educação como instrumento de combate à discriminação racial: “Acredito que as crianças têm o poder de fazer um futuro diferente, com mais equidade. Somos herança de séculos de escravidão, a desigualdade está presente, assim como o racismo. Mas, na educação de São Vicente, a pauta é central, e todos os dias lutamos e lutaremos para diminuí-la. O Procor é a junção de todos nossos esforços, pois juntos conseguiremos construir um amanhã melhor”.
No Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, a mensagem de Cristina para alunos e professores negros é clara: “Sigamos firmes na missão de construir um futuro mais justo, inclusivo e antirracista, no qual o potencial de cada um seja reconhecido e celebrado, independentemente da cor".
Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial - A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou, em 1966, a data em memória ao massacre de Sharpeville, em Johanesburgo, na África do Sul, em 1960. Nesse mesmo ano, mais de 20 mil pessoas, das mais diversas comunidades negras africanas, avançavam em protesto contra a Lei da Posse, criada pelo Partido Nacional, como ferramenta de luta contra o racismo durante o Apartheid.
No Brasil, infelizmente os casos de racismo cresceram muito nos últimos anos. De acordo com o Governo Federal, entre 2018 e 2022, houve aumento de cerca de 30% nos registros. Além disso, a população negra é a maior vítima de homicídios, representando 77,9% dos casos. A violência também está expressa em ambientes corporativos e institucionais. O levantamento feito pelo Trilhas de Impacto apontou que 86% das mulheres negras já sofreram casos de racismo em empresas. Além disso, outra pesquisa, da empresa CEGOS, identificou que 75% das empresas levantaram o racismo como a principal forma de discriminação.
Por Rafael Dias