A sabedoria popular foi destaque na noite de sexta-feira (11) com o projeto “Raízes e Rimas”, realizado por alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Unidade Educacional Sebastião Ribeiro da Silva (bairro Tancredo).
O ponto alto da programação foi a sessão de autógrafos do livro autoral contendo dezenas de receitas com plantas medicinais, escrito sob a orientação da assistente de direção da UE, Patrícia Lins. A professora explica que a ideia surgiu de maneira natural. “No início do ano letivo, cheguei resfriada na primeira semana de aula e uma aluna me deu a muda de uma plantinha, explicando as suas propriedades medicinais. A partir dali, o projeto foi sendo construído, até a conclusão nesta noite”, relatou Patrícia, revelando que o que seria apenas um livro se transformou em um grande evento, com exposição de ervas, oficina de estamparia, degustação de chá e poesias de cordel sobre o mesmo tema.
A parte do cordel foi coordenada pela professora Lucilene Lima. “Como muitos são de origem nordestina, e já conhecem essa forma de literatura, as aulas ficaram mais dinâmicas, facilitando o processo de alfabetização por ser algo que eles gostam”, detalhou.
Diretora da unidade, Sandra Chaves destaca a importância da proposta, numa demonstração de troca de conhecimentos. “Eles trouxeram essa bagagem da sabedoria popular para dentro da escola, o que ajudou na aprendizagem deles também”.
A aluna Josefa de Jesus Santos, 65 anos, falou sobre a terapia com uso de plantas. “Quando tomamos um chá, ativamos algumas partes do corpo, e agradecemos à mãe-natureza pelo resultado da cura dado pelo universo”, conta Josefa, que começou a estudar há apenas dois anos. “Vivia deprimida e a escola me salvou”.
“Esse livro mostra que valeu muito a pena eu voltar a estudar depois de mais velho, e quem está fora da escola acho que está perdendo muito. Até pouco tempo, mal sabia escrever meu nome. Fiz o Mobral quando era mais novo, mas foi aqui que aprendi a ler e escrever de verdade”, avaliou o pedreiro José Vieira Fontes, 65.
Maria de Lourdes Fontes, 71, classificou a iniciativa como uma ótima experiência. “Foi maravilhoso. Nunca esperei aprender tanto na escola”, conta a aluna do 4º termo (equivalente ao 5º ano).
Pegando a onda, a professora de artes, Silvana Bueno Passos, expandiu o tema para a sua disciplina, realizando uma oficina de estamparia em tecido. “Usamos a folha de costela de adão, muito comum em quintais, para a impressão em sacolas ecobag, de algodão cru. Além de ficar muito bonito, é algo que pode servir para gerar renda para os alunos”, explicou Silvana. De secagem rápida, o processo de estampa utiliza apenas tinta de tecido, rolinho de espuma, bandeja e papel pardo. “Pode também utilizar em roupas, como esta que estou usando como modelo, com a mesma ilustração”, completou.
A secretária de Educação de São Vicente, Michelle Paraguai, prestigiou o evento, participando inclusive da oficina. “Projetos como este são estimulantes, em especial para a EJA, porque o aluno vem para a escola depois de um dia cansativo no trabalho, e espera uma aula produtiva. Viver esse tipo de iniciativa é muito significativo”.
Texto - Renato Pirauá
Fotos - Victor Cândido