Na tarde de segunda-feira (19), a Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (Sedhc), promoveu a exibição gratuita do documentário “Caso Araceli – A Cobertura da Imprensa”, seguida de um cine debate no Cine Roxy, localizado no Brisamar Shopping. A atividade marcou o pontapé inicial das ações do Maio Laranja, campanha nacional de conscientização contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes.
O evento reuniu estudantes e professores das instituições ETEC Dra. Ruth Cardoso, EE Martin Afonso e Camp R.B, além de representantes da sociedade civil, conselhos tutelares, secretarias e conselhos municipais. Após a exibição do filme, o público pôde participar de um debate com conselheiros tutelares e profissionais da área, que esclareceram dúvidas e compartilharam informações sobre canais de denúncia e atendimento especializado.
O documentário, produzido pela TV Assembleia do Espírito Santo, resgata a história de Araceli Crespo, uma menina de apenas 8 anos que foi sequestrada, violentada e assassinada em 1973. O crime brutal chocou o país e, até hoje, representa um símbolo da luta por justiça e pela proteção da infância. A escolha do dia 18 de maio para o Maio Laranja faz justamente referência ao dia em que o corpo de Araceli foi encontrado.
O secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Jackson Nunes, abriu o evento destacando o papel fundamental da mobilização social:
“Estamos no Maio Laranja, mês em que reforçamos o compromisso de combater todo tipo de violência contra crianças e adolescentes, em especial a sexual. Temos uma lei municipal e uma lei federal que nos embasam, e todos os anos realizamos diversas ações. Este ano, começamos com o cine debate, mas teremos ainda palestras nas escolas, o ‘Abraço na Lagoa do Quarentenário’ e uma passeata no Centro. O documentário retrata o caso da menina Araceli, que em 1973 foi violentada e assassinada, e a partir disso nasceu o Maio Laranja. Para combater o abuso infantil, os primeiros passos são a conscientização. E é isso que estamos fazendo aqui: informar, orientar e reforçar os serviços que temos na Prefeitura, como a escuta especializada que oferecemos na Sedhc”.
Durante o debate, o psicólogo e conselheiro tutelar Felipe Galvão explicou como funciona a rede de proteção em São Vicente. Atualmente, o município conta com dois Conselhos Tutelares — um na Área Insular e outro na Continental — com funcionamento 24h, voltados a acolher e encaminhar denúncias de qualquer tipo de violência contra crianças e adolescentes.
Um dos principais avanços nessa rede é a chamada escuta especializada, que permite que a vítima relate os fatos apenas uma vez a um profissional capacitado, evitando que ela reviva o trauma em múltiplas repetições para diferentes órgãos, como escolas, delegacias e hospitais. A partir desse único relato, todos os setores da rede têm acesso às informações necessárias para proteger e acolher a criança.
Em sua fala, Felipe emocionou o público ao destacar:
“Uma das coisas que a gente sempre reforça na Sedhc é que os jovens têm voz. Toda e qualquer denúncia que vocês fizerem para a gente será levada a sério. Nós vamos acreditar em vocês, vamos estar ao lado de vocês para investigar e garantir que os responsáveis sejam punidos por qualquer ato de violência cometido”.
O conselheiro enfatizou ainda que o silêncio não pode mais ser uma opção diante da dor:
“E por que fazemos essa campanha todo 18 de maio, e durante o ano inteiro, com ações de orientação e mobilização? Porque é preciso gritar. As vítimas precisam gritar. Não dá para guardar uma violência como se fosse um tabu, silenciar, fingir que não aconteceu”.
Felipe fez um apelo direto, lembrando que o sofrimento não pode ser carregado sozinho por quem sofreu a agressão: “A vítima não pode carregar esse peso e essa dor sozinha”.
Por fim, ele convocou a responsabilidade coletiva da sociedade, reforçando que a proteção à infância é um dever compartilhado: “A responsabilidade é de todos nós, não só da criança ou dos seus responsáveis. Como sociedade, temos o dever de proteger, de ouvir esse grito, de estar atentos a ele e de oferecer o suporte necessário que essas crianças e adolescentes precisam”.
O debate se aprofundou ainda mais com a participação dos estudantes, que deram um verdadeiro show de consciência crítica e empatia.
Juan Queiroz, de 17 anos, aluno da ETEC Dra. Ruth Cardoso, destacou a função da educação como ferramenta transformadora:
“A educação tem o papel de moldar culturas e gerações para que isso não se repita. Os adultos da geração passada foram criados de outra forma, e agora é nossa responsabilidade moldar o futuro. Vivemos em sociedade com regras e atos como os retratados no documentário são hediondos. O psicólogo tocou em algo profundo: quando a vítima repete o relato, ela começa a se sentir desacreditada. A escuta especializada é necessária. Espero que essa iniciativa não pare por aqui”.
Maria Fernanda Fugazza, de 17 anos, também da ETEC Dra. Ruth Cardoso, destacou a função da educação como ferramenta transformadora:
, abordou a urgência de quebrar o tabu em torno da educação sexual:
“Esse tipo de ensino precisa começar na infância. É um tabu que já deveria ter sido quebrado. Não é só a escola, é dentro de casa também. A educação sexual ensina a criança a reconhecer o que é errado. Muitos abusadores dizem que é brincadeira. A criança precisa entender que não é. Precisamos falar sobre isso, e não silenciar”.
Já João Pedro Ehlers, aluno da Escola Martim Afonso, expressou indignação ao saber que os acusados do crime de Araceli foram absolvidos:
“Fiquei bastante incomodado com o fato de eles terem sido soltos. É revoltante uma pessoa cometer algo tão grave e sair impune. Esse tipo de crime não pode ser tratado com leveza. Prisão perpétua, para mim, é o mínimo. Muitas crianças também não falam por medo. Então precisamos ficar atentos. Uma denúncia pode salvar uma vida”.
O evento encerrou com forte comoção e reflexões importantes sobre o papel de cada indivíduo na proteção da infância. A Sedhc reforça que denúncias de violência contra crianças e adolescentes podem ser feitas anonimamente pelos canais:
Disque 100.
WhatsApp do Disque 100: (+55 61 99611-0100).
Ou diretamente com os Conselhos Tutelares de São Vicente.
Por Jessica Costabile