Refletir sobre os povos originários é essencial para valorizar a riqueza cultural do nosso país, compreender a importância da relação sustentável com a natureza, promover o respeito aos direitos humanos e à diversidade, além de desconstruir estereótipos. Tudo isso contribui para a formação de uma sociedade mais justa e inclusiva. Sob essa visão, nesta quarta-feira (27), um momento de reflexão foi proposto com o lançamento do curta-metragem ‘Se Ver’, no Cine Roxy Brisamar.
Dirigido por Maia de Barros e Danila Bustamante, em coprodução com a Aldeia de Paranapuã, o filme foi exibido com a casa lotada. Na plateia, estavam os vicentinos, demais moradores da região, autoridades, produtores culturais e, principalmente, as estrelas desta história: a comunidade indígena, que pôde se ver representada na telona.
A obra propõe uma profunda reflexão sobre os povos que já estavam aqui muito antes da colonização portuguesa que fundou a Vila de São Vicente. Toda narrada em Guarani, a produção traz questionamentos sobre memória, território e identidade, convidando o público a enxergar São Vicente sob uma nova perspectiva.
Durante o evento, os membros da Aldeia Paranapuã, liderados pelo cacique Ronildo, expressaram sua emoção e gratidão pela visibilidade proporcionada:
"Por toda a Baixada Santista existem povos originários Guarani, Tupi, que merecem respeito, pois são povos que mantêm sua cultura e ancestralidade, sempre respeitando o próximo. Agradeço a todos por estarem aqui hoje, prestigiando um pouco da nossa vida, do nosso cotidiano dentro da comunidade. Nem tudo são flores, mas estamos lutando para proteger nossos anciãos, nossas crianças, e para garantir um futuro melhor para elas".
O curta aborda as vivências reais da aldeia, costumes e desafios, revelando a constante luta desses povos para continuar existindo diante de um mundo que, muitas vezes, insiste em apagá-los. “A principal mensagem é que a Cidade possa enxergar sua própria história a partir de perspectivas mais atuais, decoloniais e antirracistas. Que ela perceba que este território é ancestral e que os povos indígenas que vivem aqui precisam ser respeitados, valorizados e ter suas terras devidamente demarcadas”, afirmou Maia.
Entre tantos detalhes que emocionaram, um ponto brilhou ainda mais forte aos olhos e acariciou os ouvidos, as músicas representativas. O grande destaque foi a canção original do filme, 'Se ver', assinada pelo diretor Maia de Barros. A composição, que costura em versos os nomes indígenas do bairro, resgatando histórias ancestrais em forma de canção.
Após a exibição, o público ovacionou o filme com aplausos de pé e foi presenteado com uma apresentação musical da aldeia indígena, em um momento de conexão e celebração da cultura originária. Solange Elisabete, uma das munícipes presentes resumiu sua experiência:
"Foi uma experiência fantástica. Acredito que é exatamente isso que o Brasil precisa: conhecer e reconhecer sua verdadeira história. É fundamental que as pessoas entendam que o Brasil já existia muito antes da chegada dos portugueses, e que ele não foi descoberto, foi invadido. Precisamos respeitar os povos originários, que carregam uma visão de mundo completamente diferente da nossa, mas extremamente valiosa — não só para o futuro do Brasil, mas para toda a humanidade”.
O lançamento da obra não apenas emociona, mas também provoca. É um chamado à escuta, à valorização da memória e ao reconhecimento dos povos indígenas como protagonistas vivos da nossa história. Em tempos em que a preservação da cultura e da diversidade se tornam urgências, iniciativas como essa reforçam que só é possível construir um futuro justo quando se honra o passado com verdade, respeito e dignidade.
O filme foi produzido com o apoio da Secretaria de Cultura (Secult) da Prefeitura de São Vicente e realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, via Ministério da Cultura, do Governo Federal.
Por Nattan Frade Alves