Nascida em São Paulo e moradora de São Vicente desde os 10 anos, Ana Lúcia Maria da Silva Armando, conhecida como Analu Pinheiro, carrega desde a infância a influência paterna no gosto pela notícia. “Meu pai era um ávido leitor e costumava me contar, de forma lúdica, tudo o que acontecia no Brasil e no mundo. Nunca esqueci quando ele me explicou sobre a bomba de Hiroshima. Eu brincava de entrevistar usando o vidro de desodorante como microfone”, recorda.
Mesmo diante de inúmeros obstáculos, a paixão pelo jornalismo a levou à faculdade. Aos 28 anos, mãe solteira e trabalhando em uma loja por um salário e meio, conciliava estudos, maternidade e emprego. “Passei muitas férias correndo atrás de documentos para manter minha bolsa. Minhas notas não podiam ser mínimas. O tempo era escasso e acabei ficando conhecida como a antipática da turma, porque quase não conseguia socializar”, lembra.
Além das dificuldades financeiras, Analu também enfrentou desafios de saúde: nasceu com rins policísticos, condição que a acompanha até hoje. Mas isso não a impediu de seguir firme. “A palavra que define minha trajetória é perseverança. Sou de uma família humilde, me formei sem dinheiro, um pouco mais tarde, e sendo mãe solo. Hoje, com 52 anos, sou casada, estável e feliz com minhas escolhas, mesmo passando por hemodiálise”.
Analu foi estagiária na Prefeitura de São Vicente, atuou como assessora de imprensa da Corrida Litoral Paulista, foi repórter voluntária na extinta Net Cidade e hoje é assessora de comunicação da ONG Família Menezes. Além disso, é idealizadora e apresentadora do Podcast Praia Nossa, projeto que dá visibilidade a profissionais, ONGs, artistas e instituições da Baixada Santista. “É um projeto para mostrar nossa gente, feito para quem sonha e realiza. Quero contribuir de forma efetiva para o jornalismo e a divulgação local, apresentando nossa arte, nossos políticos, nossa sociedade e nossas instituições sociais”.
A jornalista enxerga a profissão não apenas como trabalho, mas como vocação. “O papel do jornalismo sempre foi e será informar, denunciar, cobrar as autoridades, dar voz a quem não tem e até mesmo educar”, afirma. Para ela, a sensibilidade feminina dá um tom especial à forma de comunicar: “A mulher tem uma forma diferente de se expressar. É mais sensível, cuidadosa e, muitas vezes, mais assertiva”.
Entre suas referências estão ícones como Glória Maria e Ilze Scamparini. E, entre as experiências mais marcantes, destaca uma entrevista com a irmã Dolores, missionária que escolheu viver em comunidades carentes. “Ela me disse que só poderia ajudar de verdade se sentisse o que o povo sentia, vivendo as mesmas dificuldades. Isso me comoveu profundamente. A essência dela me inspira até hoje”.
Para além da própria história, Analu faz questão de pontuar os dilemas do jornalismo moderno. “Infelizmente, muitos se dizem jornalistas sem nunca terem passado por uma faculdade. Isso contribuiu para a propagação das fake news . Mas não generalizo, ainda há muita gente boa sobrevivendo a tudo isso. O fundamental é checar as fontes, ouvir com atenção e ter cuidado com as palavras”.
A história de vida de Analu Pinheiro simboliza o protagonismo feminino nos meios de comunicação, trazendo um exemplo de dedicação e a certeza de que contar histórias é também transformar realidades.
Dia Latino-Americano da Imagem da Mulher nos Meios de Comunicação - A data, comemorada em 14 de setembro, surgiu em resposta a um ato de censura a um programa de rádio pioneiro na defesa dos direitos das mulheres, o "Viva Maria", que marcou a criação de uma rede de jornalistas e a fundação de iniciativas para promover a igualdade de gênero nos meios de comunicação e na sociedade.
Por Maria Fernanda Lopes


