O auditório do Espaço Multicultural, em São Vicente, se transformou em uma verdadeira sala de cinema nesta quarta-feira (29). O motivo foi a estreia de “Gohayó: O Clube de Mistérios e a Lenda do Ipupiara”, curta-metragem produzido pelos alunos da AMEI Duque de Caxias. Inspirado na primeira lenda do Brasil, nascida justamente na primeira cidade do país, o filme mistura suspense, fantasia e muita imaginação para contar uma história vicentina.
A produção mostra a chegada de um novo aluno à escola, um garoto misterioso, que desperta a curiosidade de um grupo de amigos. Aos poucos, eles percebem que há algo de estranho acontecendo, e que o colega pode estar ligado à volta do Ipupiara, um monstro lendário das águas. Unidos pela coragem e pela amizade, os estudantes embarcam em uma jornada para desvendar o segredo e enfrentar a criatura.
O educador de teatro e cinema Tiago Gonçalves, responsável pela oficina, explica que o projeto nasceu do desejo de aproximar os alunos da própria história.
“Durante o ano, aprendemos todas as etapas de uma produção audiovisual, roteiro, direção, gravação e edição. Ao conhecerem mais sobre as narrativas e lendas da nossa cidade, as crianças se encantaram com o Ipupiara e decidiram criar uma história original a partir dele”, contou.
Para Tiago, ver o resultado final em tela grande é mais do que emocionante: “Esse tipo de experiência desperta o senso de pertencimento. As crianças se veem no filme, em um lugar que conhecem, mas de uma forma mágica, que aguça a criatividade e a imaginação”.
Segundo a lenda, o Ipupiara, palavra de origem indígena que significa “demônio d’água”, teria sido visto pela primeira vez em 1564, na praia de São Vicente. O relato foi registrado pelo cronista português Pero de Magalhães Gândavo, que descreveu a criatura como um monstro marinho de 3,5 metros de altura, com braços longos, dentes pontiagudos e pés de barbatanas. A lenda, passada de geração em geração, ganhou vida na tela graças à criatividade dos estudantes, que transformaram o mito em um símbolo de aprendizado e trabalho em equipe.
Para as crianças, participar do filme foi uma mistura de diversão e descoberta.
“Foi difícil, mas deu pra gravar umas coisas bem legais”, contou Nicole Gaspar, do 5º B. “Aprendi que pra gravar um filme a gente precisa de paciência e da colaboração de todos”.
O colega Lorenzo de Lima Bulhões, também do 5º B, destacou o espírito coletivo do projeto: “Aprendi que não é só um que se destaca, é todo mundo junto. Todo mundo participa, ajuda e está lá comigo”.
Já Bernardo Agamenon, que sonha em ser uma estrela de Hollywood um dia do 5º A, revelou que a experiência ajudou a vencer a timidez: “Perdi o medo de falar. Me soltei mais, como um ator de verdade”.
Para Emanuele Alves Souto, do 5º A, a gravação também trouxe aprendizados que vão além da tela: “Foi bem legal, tirando algumas partes em que a sala fazia barulho, mas o professor falava e a gente respeitava. Aprendi que tem momento pra tudo — pra rir, pra brincar e pra ouvir. Na hora de gravar, é preciso silêncio e atenção. Quem sabe um dia eu vire atriz e grave outros filmes?”, disse, sorrindo.
A articuladora pedagógica Stephane Eugenio , conhecida pelos alunos como “tia do cabelo rosa”, acompanhou o processo de perto e vibrou com o resultado.
“Até o ano passado, as crianças estavam acostumadas a ver a escola apenas como sala e carteira. Com as oficinas de tempo integral, a gente traz vida pra dentro da escola. Essas experiências lúdicas ensinam muito mais do que se imagina, desde repertório cultural até habilidades que elas vão levar pra vida toda”, ressaltou.
A coordenadora pedagógica Paula Medeiros Gobbo, da AMEI Duque de Caxias, destacou o papel do cinema na formação integral das crianças.
“O teatro e o audiovisual complementam o currículo. São oficinas que desenvolvem habilidades que, dentro da sala de aula tradicional, não teriam espaço. Essa turma vai guardar essa memória pra sempre”, afirmou.
A secretária de Educação, Michelle Paraguai, também comentou sobre o impacto pedagógico da produção.
“É muito importante que as crianças vivenciem experiências educativas que despertem a criatividade, o trabalho em equipe e a expressão de suas ideias. Participar da construção e do roteiro de um curta-metragem amplia o repertório cultural e intelectual dos estudantes, tornando o aprendizado mais significativo e prazeroso”, destacou.
Com essa experiência os alunos descobriram que toda grande história começa com imaginação, e que a escola pode ser o primeiro cenário de um sonho.
Por Jessica Costabile