“Meu tu não sabe o que aconteceu! Os caras do Charlie Brown invadiram a cidade! Chame sua mãe, seu cachorro e sua sogra…” - Charlie Brown Jr. (O Côro Vai Comê). O refrão conhecido ganhou vida de um jeito nostálgico nesta segunda-feira (1º), na Praia do Itararé. Foi quando o Parque da Juventude se transformou novamente em set de filmagens para a cinebiografia de Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., interpretado por José Loreto. O filme é inspirado no livro “Se não eu, quem vai fazer você feliz?”, escrito por Graziela Gonçalves, viúva do cantor. Das 18h30 às 23h30, o espaço recebeu três cenas na pista de skate, mas, desta vez, o espetáculo foi também fora das câmeras: amigos, pais, e filhos se reuniram para acompanhar de perto um pedaço da história que há décadas pulsa na Baixada Santista.
Ver um filme nascer no quintal de casa mexeu com a memória afetiva de quem já acompanhou a trajetória de Chorão e despertou a curiosidade das novas gerações. O Paulo Henrique, de 13 anos, morador do Itararé, não viveu o auge da banda, mas não escondia a empolgação. “É legal ver a produção, os atores, pensar que no futuro eu vou assistir no cinema e poder falar: eu estava ali atrás”, contou, lembrando que deixou até sua assinatura na pista.
Amigo de Paulo, Davi Santana, de 11 anos, descobriu por acaso que haveria gravação. Sem nunca ter escutado Charlie Brown Jr., enxergou a oportunidade como uma forma de aprender. “É legal mostrar para meus amigos como era a banda. E ser perto de casa é melhor ainda!”, brincou.
Se os mais novos estavam descobrindo, havia também quem se emocionava com a chance de relembrar. Foi o caso de Daniele Lousada, 40 anos, fã desde os tempos em que o Charlie Brown Jr. ainda começava a lotar shows pela Baixada. “Sou fã desde adolescente, acompanhava todos os shows. Eu até tinha parado de escutar, ma minha filha, que é skatista, resgatou coisas que estavam adormecidas em mim. Esse filme vai ser muito importante pra nossa cidade e pra mostrar que a música do Chorão vai ficar para sempre”, contou.
O bastão, como ela mesma reconhece, já está nas mãos da filha. Maitê Lousada, de 11 anos, ouviu pela primeira vez as músicas por influência dos pais e hoje fala com convicção sobre a importância do legado de Chorão. “Meus pais ouviam, aí eu comecei a gostar também. Gosto muito do Chorão e também do Champignon. Mesmo a banda sendo antiga, não é coisa de velho, é cultural. Ele vai deixar um legado para as outras gerações”, disse, orgulhosa de carregar uma herança musical que se renova a cada nova voz que canta os versos da banda.
A cena também tocou Paola Lopes, de 15 anos. Sem ter vivido a fase da banda, ela foi puxada pela mãe, Ana Cláudia Gaspar, para conhecer a obra. “É legal ver como era na época dela, entender o que ela viveu. Acho que vou gostar muito do filme”, comentou. O pai, Laudenor Lopes, de 60 anos, lembrou dos tempos em que conheceu Chorão ainda em Santos. “Ele era diferente, um ‘moleque bom’, um compositor forte. Não teremos outro igual. Foi um dos últimos grandes rockstars, vai ficar pra história”.
Entre gerações, o que se viu foi uma troca simbólica: pais passando histórias, filhos descobrindo, amigos se reunindo para assistir juntos, tudo embalado pela memória de uma banda que, mesmo tendo encerrado suas atividades há mais de uma década, segue viva na identidade da Baixada Santista.
Um legado que não se apaga
Mais do que um cantor, Chorão foi um porta-voz de um movimento que unia skate, música e atitude. As letras do Charlie Brown Jr. misturavam poesia urbana, protesto e afeto, retratando a vida de milhares de jovens brasileiros. A cinebiografia que chega agora às telas não apenas resgata essa trajetória, mas reafirma a força de um legado cultural que atravessa gerações.
Porque, como as famílias que se reuniram no Itararé provaram nesta noite de filmagem, as músicas de Chorão não envelhecem, elas ecoam, de pais para filhos, de amigos para amigos, como uma trilha sonora eterna da vida na Baixada e além dela.
“Se quem eu amo tem amor por mim, sei que ainda estamos muito longe do fim” - CBJr (Meu novo mundo).
Por Jessica Costabile