“Sem dor, não há ganho”, um clássico lema que demonstra bem o esforço e dedicação necessários para ser um Powerlifter profissional, modalidade esportiva na qual os participantes utilizam pesos para fazerem movimentos como agachamento e supino, ecoam pela história do morador de São Vicente Marcos Alvino dos Santos que protagonizou uma das histórias mais marcantes do Victorem Games, campeonato nacional de Powerlifting realizado no Centro Olímpico, no Rio de Janeiro.
Durante um torneio que reuniu alguns dos melhores atletas do Brasil e até competidores estrangeiros, Marcos venceu na categoria powerbiceps apenas dois dias após receber alta da UTI do hospital Santo Expedito, em Santos, onde esteve internado em estado grave por conta de leptospirose, provavelmente adquirida após beber energético em uma lata contaminada. “Tive febre, vômito, icterícia e fraqueza, então corri para o hospital”, explicou Ricardo.
Mais do que uma conquista esportiva, essa vitória simbolizou, para ele, uma verdadeira volta à vida. “Na terça-feira, eu não sabia se sairia vivo do hospital. No domingo, estava no lugar mais alto do pódio”, relembra.
Apesar de ter iniciado a prática da musculação apenas aos 21 anos e ter estreado no powerlifting em 2025, hoje, aos 37, Marcos já possui um histórico expressivo nas principais competições do cenário nacional. Em menos de um ano, subiu ao pódio no Campeonato Paulista, no Arnold Classic, a segunda maior competição multiesportiva do mundo, e agora, no Victorem Games, encerrando com chave de ouro sua participação no Circuito Nacional, onde já havia garantido a vaga para o Mundial de Powerlifting, que será realizado em outubro.
O powerbiceps, categoria na qual Marcos compete, faz parte de um conjunto de modalidades que vêm ganhando destaque dentro do universo do powerlifting.
Enquanto o esporte tradicional se baseia em três movimentos principais, o agachamento, o supino e o levantamento terra, o powerbiceps foca na força isolada dos braços, exigindo controle técnico apurado, força concentrada e domínio total dos movimentos.
A preparação de Marcos para a competição foi rigorosa e seguiu o mesmo protocolo que ele tem planejado para o Mundial: uma dieta hipercalórica com mais de 6 mil calorias diárias, treinos com aumento progressivo de carga, fortalecimento muscular específico e descanso adequado para otimizar a recuperação. No aspecto mental, o atleta conta com sessões de terapia e práticas de meditação, ferramentas essenciais para manter o foco e lidar com a ansiedade pré-competição. Mas o maior desafio desta vez não veio da balança ou dos adversários: veio da saúde. “O mais difícil foi ignorar o que havia acontecido dias antes, deixar o medo de lado e competir. Estar longe de casa, ainda me recuperando, foi um desafio mental imenso”, comenta.
Durante a competição, Marcos conseguiu igualar seu próprio recorde paulista (70 kg), mas, por um erro técnico, não alcançou o recorde brasileiro da categoria (75 kg), que também pertence a ele.
Ainda assim, considerando o contexto e os dias turbulentos anteriores, o resultado foi motivo de grande celebração. Ele também destaca o alto nível dos competidores, com muitos atletas jovens em ascensão, e a presença de ídolos do esporte nacional, como o ex-lutador de MMA Rogério Minotouro, responsável pela entrega da premiação. “Foi uma experiência única competir em outro estado, em um ambiente olímpico, com novos rostos e alto nível técnico”, comentou o atleta.
Mesmo com pouco tempo de carreira, Marcos já participou de três grandes competições, subindo ao pódio em todas elas. Foi eleito melhor atleta em uma delas e já soma sete recordes quebrados. Quando perguntado sobre qual competição mais o marcou, prefere não escolher: “O Paulista foi o primeiro, o Arnold tem peso internacional e o Victorem tem todo esse contexto de superação. Seria injusto escolher um só”.
Entre suas inspirações no esporte, Marcos cita nomes como Ayrton Senna, símbolo de perseverança e superação; Hafthor Bjornsson e Mitchel Hooper, gigantes dos esportes de força; o lendário lutador Brock Lesnar; e o atacante argentino Martín Palermo, conhecido pela superação de lesões e momentos emblemáticos com a camisa do Boca Juniors.
Agora, o foco total está voltado para o Mundial de Powerlifting, em outubro, a competição mais importante do calendário até aqui. “Tudo que faço agora é pensando no Mundial. Depois, pretendo tirar um tempo para descansar antes de iniciar a preparação para 2026”, conclui.
Com uma trajetória meteórica, marcada por disciplina, superação e paixão pelo esporte, Marcos Alvino segue firme na missão de levar o nome do Brasil e de São Vicente ao topo, dentro e fora das plataformas de competição. E, ao que tudo indica, essa jornada está apenas começando.
Por Nattan Frade Alves



