Na memória de Tadeu Filho, a fotografia começou antes mesmo de ser profissão. Nascido e criado em São Vicente, o calunga raiz recorda as tardes em frente à televisão, fascinado pelos filmes do Steven Spielberg e pelos heróis da “Sessão da Tarde”. Indiana Jones poderia ter sido um ideal distante, mas foi a câmera de vídeo comprada por seu tio nos anos 1990 que o aproximou, de fato, de uma aventura que jamais terminaria. Nesta terça-feira, (19), Dia da Fotografia, Tadeu lembra como aquelas primeiras experiências de infância acabaram moldando sua visa: “Era um dos brinquedos mais legais que tínhamos em casa. Filmamos de tudo, inventamos histórias, fazíamos filmes amadores. Acho que ali nasceu em mim esse encantamento pelas imagens”.
A transição da brincadeira para a prática profissional aconteceu nos anos 2000, quando uma amiga surfista precisava de um ensaio para o patrocinador. A câmera era simples, digital e modesta, mas o resultado foi parar em um catálogo oficial. “Foi ali que percebi que poderia levar isso adiante”, diz. Depois de temporadas trabalhando em navios, decidiu investir de vez em equipamentos e construir uma profissão na fotografia. Esse ano Tadeu completa 18 anos de carreira.
O maior marco, segundo ele, não veio de grandes feitos, mas do reconhecimento. “Meus pais sempre me apoiaram, mesmo sem entender direito o que era trabalhar com edição, fotografia, eventos. O mundo, às vezes, olhava com desconfiança: ‘dá pra viver disso?’. E viver disso foi a minha maior conquista”, afirma.
Hoje, Tadeu é fotógrafo da Secretaria de Imprensa e Comunicação (Seicom) da Prefeitura de São Vicente desde junho de 2021, e se define como fotojornalista. Não por acaso. Para ele, esse é o estilo mais desafiador e, ao mesmo tempo, mais gratificante. “Em estúdio você prepara a cena, ajusta luz, roupa, maquiagem. No fotojornalismo não: você vai para a rua e precisa tirar dali uma boa foto. É o tipo de registro que exige atenção, rapidez e sensibilidade. É difícil, mas é isso que me realiza”.
Entre inspirações, Tadeu cita nomes que moldaram sua visão. Evandro Teixeira, referência do fotojornalismo brasileiro, e Araquém Alcântara, conhecido por retratar a natureza em imagens espalhadas por livros didáticos de todo o país. O cinema também influencia seu olhar: Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”, aparece como referência por transitar entre linguagens sem perder a força do registro.
Desafios não faltaram, desde câmeras que quebram em meio a eventos até momentos em que a insistência em registrar esbarra em quem não quer ser fotografado. Mas para ele, cada obstáculo reforça a certeza de que a fotografia é mais do que um trabalho. “Às vezes brigo com ela, digo que não quero mais. Mas logo volto. Parece um casal apaixonado, que não consegue se separar. A fotografia faz parte de mim”.
Se o presente está consolidado, o futuro inspira novos sonhos: dirigir filmes, assinar a fotografia de longas-metragens, conquistar prêmios importantes e levar o nome de São Vicente para além das fronteiras da Baixada Santista. Mas também há algo maior, a vontade de inspirar. “Quando jovens me procuram para falar de fotografia, para tirar dúvidas, sinto que cada conversa é um tijolinho colocado nesse caminho. Não tem reconhecimento maior.”
Neste Dia da Fotografia, a trajetória de Tadeu Filho Photo, como ele assina seus trabalhos, mostra como a paixão de um vicentino se transformou em profissão e legado. Um olhar que atravessa histórias pessoais, desafios cotidianos e o desejo constante de registrar o mundo como ele é: real, vivo e sempre em movimento.
Por Jessica Costabile