O Método Canguru é uma estratégia de atenção ao recém-nascido prematuro que busca estimular o vínculo familiar e promover o desenvolvimento do bebê fora do útero. A prática, amplamente adotada na Maternidade Municipal de São Vicente, envolve o contato direto e contínuo pele a pele entre o bebê e a mãe, além da participação ativa dos pais no processo de cuidado ainda no ambiente hospitalar e, posteriormente, em casa.
A abordagem contribui para a estabilidade térmica, melhora da amamentação, redução de infecções, ganho de peso mais rápido e desenvolvimento neurológico mais eficiente devido à experiência tátil, auditiva, percepção corporal e rítmica, minimizando a sobrecarga de estímulos.
A jovem Estefany da Silva Sousa, de 17 anos, mãe da pequena Selena, vivenciou na prática os benefícios da metodologia. Sua filha nasceu com 33 semanas e quatro dias, após uma gestação considerada de risco: “Tive colo curto, que descobri com 25 semanas. Sabia que poderia ter a qualquer momento alguma questão, então, eu preparei o meu psicológico. Quando a Selena veio, eu só conversei com Deus, porque sabia que poderia acontecer. Na primeira vez em que tive o contato com ela, foi um amor incondicional. Ter essa oportunidade me deixou mais tranquila, mais aliviada”.
O Método é estruturado em três etapas: a primeira inicia-se ainda no pré-natal de alto risco e na UTI Neonatal, com o bebê em condições clínicas estáveis. A segunda acontece no chamado “Quarto Canguru”, onde a mãe permanece em tempo integral com o recém-nascido; e a terceira etapa é no acompanhamento ambulatorial, atenção básica e em casa, onde o contato pele a pele deve ser mantido até o bebê atingir cerca de 2,5Kg.
De acordo com Jamillie de Cássia Palmeira, enfermeira responsável técnica da Maternidade, o método passou por uma transformação importante nos últimos anos: “Antes, só iniciávamos o método com bebês acima de 1,2kg. Hoje, com os avanços na neonatologia e mudanças na literatura científica, esse critério caiu. Se o bebê está estável, já iniciamos o contato pele a pele precocemente. Só há benefícios”.
A Dra. Monica Ramalho Vidal, coordenadora da equipe de pediatria da maternidade, reforça que o Método Canguru vai além do afeto: pois também funciona como um mecanismo terapêutico. “O bebê prematuro é imunodeprimido. Por isso temos protocolos rigorosos. Mas buscamos sempre integrar a família ao tratamento, o que tem gerado resultados muito positivos. O vínculo afetivo é reforçado, a produção de leite pela mãe aumenta, e a evolução clínica do bebê é significativamente melhor”.
A maternidade conta com uma Unidade Canguru, espaço estruturado para que a mãe permaneça em tempo integral com o bebê, sob supervisão da equipe multiprofissional. Nessa fase, a mãe assume os cuidados com o bebê (banho, amamentação, trocas), sempre com orientação da equipe, para que se sintam seguras na alta hospitalar.
“Também trabalhamos o estímulo à amamentação com apoio da fonoaudióloga e da equipe de enfermagem. Bebês a partir de 34 semanas já possuem maior coordenação neurológica, o que favorece a sucção e permite iniciar a amamentação, desde que estejam estáveis e fora de suporte ventilatório”, enfatiza a Dra. Monica.
Além da mãe, o pai pode participar do Método Canguru, inclusive na UTI Neonatal. “O envolvimento da família é essencial. Liberamos o pai também na UTI para ter esse contato, muitos adoram. O método proporciona um cuidado mais humano, eficaz e acolhedor, com resultados visíveis tanto na saúde do bebê quanto na preparação da família para a alta hospitalar”, conclui Monica.
Por Guilherme Gebara