Viver da própria arte é o sonho de muitos artistas, mas poucos conseguem transformar essa aspiração em realidade. Em São Vicente, o artesão Ricardo Leme, de 59 anos, é um exemplo claro dessa conquista. Seu caminho, marcado por desafios, cursos e a busca constante por profissionalização, reflete o poder da capacitação e da coragem de arriscar.
Ricardo iniciou sua jornada no mundo do artesanato em abril de 2022, com a criação da sua empresa, Engearte CNC. Especializado em produtos personalizados em madeira e resina, com destaque para peças de decoração que simulam o efeito mar e utilidades domésticas, ele encontrou sua verdadeira vocação ao aplicar técnicas com resina para criar peças que capturam a essência do litoral de São Vicente, sua cidade natal.
Uma preocupação central para o artista desde o início foi a sustentabilidade. Ao trabalhar com madeira e resina, ele fez questão de utilizar madeira de reflorestamento com certificação FSC, o maior órgão de certificação de madeiras sustentáveis no Brasil. “Essa certificação garante que a madeira que eu uso é legalizada e provém de práticas responsáveis de manejo florestal. A sustentabilidade é uma parte fundamental do meu trabalho, e essa é uma das minhas maiores preocupações: contribuir de forma positiva para o meio ambiente enquanto faço o que amo”, explica Ricardo.
A grande virada na carreira aconteceu em 2023, quando ele foi selecionado para participar do programa Acelera, promovido pelo Fundo Social de Solidariedade, em parceria com o Sebrae. A iniciativa, que tem o objetivo de acelerar a profissionalização de artesãos, foi um divisor de águas para ele. “Aprendi muito sobre como organizar o meu negócio, gerenciar fluxo de caixa, atender em feiras e eventos. Isso fez toda a diferença para eu começar a enxergar o artesanato de uma forma mais profissional”, relata.
Para o artista empreendedor, é fundamental saber realizar o processo de divulgação, gestão de vendas e precificação para que possa construir um negócio sustentável que continue se desenvolvendo para se tornar um meio viável de renda.
Após o programa, Ricardo foi convidado pelo Fundo Social para participar da Feira do Empreendedor do Sebrae. Esse evento foi crucial para que ele ganhasse visibilidade, ampliando sua rede de contatos com fornecedores e outros profissionais da área. “As parcerias que fiz começaram a abrir novas oportunidades, como convites para participar de lojas colaborativas em São Paulo, o que foi um passo importante para o crescimento do meu negócio.”
Além de expandir sua rede de contatos, Ricardo foi convidado a participar de projetos inovadores, como o Sebrae Instituto Sim Instituto Ecoar, onde teve a chance de expor suas peças em uma feira colaborativa no Shopping Tietê, em São Paulo. A experiência o levou a participar da Mega Artesanal, a maior feira de artesanato da América Latina, um evento que é sonho para muitos artesãos. "Estar lá como expositor foi uma conquista fantástica", diz Ricardo, que foi pioneiro ao montar um stand colaborativo com 12 artesãos.
O stand colaborativo montado por Ricardo na Mega Artesanal não só foi um sucesso de público, mas também foi elogiado por sua inovação. "Eu criei um stand que era totalmente dobrável. Quando a feira terminou, cada artesão podia levar seu próprio stand. Esse modelo foi tão elogiado que a direção da feira falou que vai adotá-lo nas próximas edições", orgulha-se. A ideia de trabalhar de forma colaborativa e não competitiva gerou uma grande repercussão entre os participantes e profissionais da área.
Além do reconhecimento, as vendas superaram as expectativas. Durante os cinco dias de evento, cada um dos artesãos vendeu o equivalente ao que normalmente venderia em um mês. “A visibilidade que a Mega Artesanal proporciona é incrível. As vendas não são o único benefício, mas também a confiança e o respeito que você conquista no mercado”, comentou.
Ricardo destaca a importância da capacitação contínua, não apenas em técnicas de artesanato, mas também em áreas como marketing digital e gestão. "Muitos artesãos têm talento, mas não sabem como se projetar no mercado. A capacitação é essencial para quem quer viver da arte", afirma. Ele também recomenda a criação de redes de apoio e colaboração, como forma de acelerar o crescimento do negócio. Para ele, estar em contato com pessoas que compartilham a mesma visão de sucesso é fundamental.
O trabalho de Ricardo é profundamente inspirado pelo mar de São Vicente. Ele utiliza técnicas de resina para criar peças que remetem às ondas e cores do litoral, como as praias de São Vicente. “Eu vejo no mar uma grande fonte de beleza, e quis trazer essa essência para o meu trabalho. Hoje, muitos artesãos compram minhas peças para aplicar em suas criações, além dos clientes finais que apreciam a resina”, conta Ricardo, que também utiliza sua arte como uma forma de expressão emocional.
Com uma visão empreendedora, Ricardo Leme tem projetos futuros ambiciosos. "Quero montar uma loja colaborativa para dar oportunidade aos artesãos da Baixada Santista. Será uma vitrine onde o artesanato será valorizado e colocado em um lugar de destaque, para que as pessoas vejam a verdadeira qualidade do que é feito por mãos talentosas e, ao mesmo tempo, contribua para a valorização dessa arte que muitas vezes é desvalorizada".
Além disso, ele espera continuar seu trabalho de divulgação da sustentabilidade no artesanato, dando cada vez mais espaço para práticas que respeitem o meio ambiente. "Fazer algo que seja bonito e ao mesmo tempo sustentável é o meu grande objetivo. O mercado está mudando, e precisamos acompanhar essa transformação", afirma.
Ricardo Leme segue construindo seu caminho no mundo do artesanato, buscando novas formas de crescimento e de contribuir para um futuro mais sustentável. Ele incentiva outros artesãos a não desistirem de seus sonhos e a continuarem buscando conhecimento e oportunidade. "Coragem e preparação são as chaves para quem quer viver do artesanato".
Além da realização pessoal Ricardo também comentou sobre os benefícios que sua nova área de atuação geraram em sua saúde física e mental.
“Trabalhei anos na engenharia, especialmente com telecomunicações, um ambiente extremamente estressante, a minha saúde estava muito afetada. Decidi então mudar de carreira para cuidar de mim, e me tornei coach de emagrecimento e saúde. Melhorei minha condição física, emagreci 12 quilos e aprendi novos hábitos. Com a pandemia, minha clientela caiu drasticamente, e foi então que encontrei inspiração para trabalhar com madeira, algo que sempre gostei. Hoje, essa atividade é minha terapia e meu trabalho, e sou muito grato por essa mudança que começou no curso oferecido pelo Fundo Social que foi uma grande mudança na minha vida.”, finaliza.
Por Nattan Frade Alves