Após enfrentar duros desafios potencializados pela crise econômica vivida em seu país natal, a venezuelana Adriana Sarai, de 32 anos, decidiu se aventurar e, há sete anos, aterrissou no Brasil grávida e com poucas certezas, mas um grande desejo: recomeçar. Sem emprego, família e português fluente, a jovem encontrou, em São Vicente, a chance de mudar de vida e garantir um sustento para a filha.
Graças a uma indicação de uma conhecida, ela descobriu sobre os cursos profissionalizantes gratuitos oferecidos pelo Fundo Social de Solidariedade (FSS). A partir disso, se viu diante da oportunidade que precisava para transformar sua história. “Sempre tive talento com as mãos, mas eu gostava mesmo da vida militar, de ser escolta. Estudei para isso. Mas, em uma viagem, perdi toda minha documentação. E cheguei aqui no Brasil com pouco. Minha maior motivação para entrar nesse curso foi minha gravidez”.
O aprendizado se tornou mais que uma habilidade, foi o ponto de partida para um futuro que ela jamais imaginou. Com talento e determinação, ela deu seus primeiros passos na costura, e pouco tempo depois, decidiu empreender. Hoje, já estabilizada, ela é dona do próprio ateliê, em sua casa, onde cria peças exclusivas e personalizadas, além de oferecer serviços de ajustes e reformas. Mas seu foco é em roupas íntimas infantis.
Como todo imigrante, ela passou por muitos desafios, incluindo o aprendizado de uma nova língua. Mas ressalta que o maior desafio é se manter. No entanto, apesar das dificuldades, nunca se sentiu discriminada nem desrespeitada pelo povo vicentino. Muito pelo contrário: “Eu tive a sorte de sair do meu país e vir para uma terra tão querida. Nem todos os venezuelanos são bem tratados como eu fui. Sou muito grata ao povo vicentino, ao Brasil e, principalmente, ao Fundo Social”, conta emocionada.
Sua jornada inspira não só outros imigrantes que chegam, diariamente, ao Brasil em busca de oportunidades, mas, também, mulheres que sonham com independência financeira e profissional. “Nunca imaginei ser costureira. Eu apenas queria uma profissão que me ajudasse a gerar renda para cuidar de minha filha e ter minha casa própria”, afirma.
Thaynã Amado, Presidente do Fundo Social, destacou a importância de iniciativas como essa na transformação de vidas: "O Brasil é um grande espaço para reconstruções. Aqui no Fundo Social, a gente trabalha diariamente para proporcionar um futuro de sonhos e realizações através dos nossos cursos. A história da Adriana, além de inspiradora, é a representação de um caso de luta e persistência. Ela enfrentou o desafio de buscar novos rumos aqui no nosso país, e quis o destino que isso acontecesse na primeira cidade do Brasil. Trabalhamos para transformar vidas, e é uma honra indescritível poder ajudá-la, através da nossa estrutura e equipe, a reconstruir essa história. Que essa trajetória possa inspirar ainda mais pessoas que desejam mudar suas vidas".
Mais do que tecidos e linhas, Adriana Sarai costura sonhos. Com cada peça que produz, ela reafirma que recomeços são possíveis quando há coragem, dedicação e uma nova oportunidade.
Dados de imigrantes no Brasil por ano - O Brasil é um grande polo para o recomeço. De acordo com dados dos órgãos governamentais, o País tem recebido, em média, entre 90 mil e 100 mil imigrantes por ano. Vale destacar que esses números se referem principalmente à entrada de imigrantes em situação legal, e podem variar de acordo com as condições econômicas, políticas e crises humanitárias que afetam os países de origem, como a atual situação na Venezuela e em outros países da América Latina.
“Nossas portas estão sempre abertas. Que mais e mais irmãos de outras nacionalidades inspirem-se nessa linda e venham reconstruir suas vidas em São Vicente”, concluiu Thaynã.
Por Rafael Dias