Falar sobre saúde mental é, acima de tudo, valorizar a vida. Ainda mais quando o tema envolve a infância e a adolescência, fases marcadas por descobertas, fragilidades e transformações. Em São Vicente, a Secretaria de Educação (Seduc) preparou uma programação especial alusiva ao Setembro Amarelo, organizada pelo Núcleo de Psicologia Escolar e Cultura de Paz, que leva para dentro das escolas atividades de escuta, diálogo, combate ao bullying e conscientização sobre a importância do cuidado com a saúde mental.
Durante o mês, unidades da rede municipal recebem palestras com professores, rodas de conversa entre estudantes e iniciativas que estimulam a expressão das emoções. A “Árvore das Emoções”, por exemplo, ajuda os alunos a identificar e nomear sentimentos, enquanto a “Caixinha de Desabafo” cria um espaço seguro para que possam compartilhar angústias de forma anônima. As escolas também recebem um cardápio de sugestões de atividades adaptáveis à realidade de cada turma e participam de ações que unem a valorização da diversidade ao fortalecimento da autoestima, por meio do Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais.
Confira a programação até o final do mês:
* U.E. Laura Filgueiras – terças-feiras: 16, 23 e 30 de setembro, das 7h30 às 11h30
• EMEF Lúcio Martins Rodrigues – terças-feiras: 16, 23 e 30 de setembro, das 14h às 18h
• U.E. Carolina Dantas – quartas-feiras: 17 e 24 de setembro, das 13h às 17h
* Caic Ayrton Senna, Escola Jorge Bierrenbach Senra e EMEF Pastor Joaquim Rodrigues da Silva – sextas-feiras: 19 e 26 de setembro, das 13h às 17h
Trabalho contínuo - Mais do que um mês de mobilização, a rede municipal mantém, desde 2023, o Programa Permanente de Combate ao Bullying e Saúde Mental, que integra psicólogos escolares às equipes pedagógicas. O trabalho envolve acompanhamento de estudantes em situação de vulnerabilidade, campanhas educativas com alunos e familiares, rodas de conversa, projetos socioemocionais e orientações a professores e gestores para a identificação precoce de sinais de sofrimento psíquico.
“A saúde mental dos nossos alunos é fundamental para o bem-estar, e, consequentemente, reflete na aprendizagem. É importante que ações sejam realizadas ao longo do ano, e o Setembro Amarelo é uma oportunidade valiosa para reforçar essas iniciativas e conscientizar sobre a importância de cuidar da saúde mental desde cedo”, ressalta a secretária de Educação de São Vicente, Michelle Paraguai.
De acordo com a psicóloga escolar Thalita Costa da Silva, que atua em quatro unidades da rede, sendo elas: UEs Laura Filgueiras, Lúcio Martins Rodrigues, Carolina Dantas e Caic Ayrton Senna, o impacto dessas ações já é perceptível. “O bullying ainda representa um desafio significativo, especialmente diante das novas formas de violência simbólica e virtual. Mas quando a escola investe em ações permanentes, ela se torna um espaço de resistência, capaz de estimular respeito, empatia e convivência saudável entre os estudantes”. Ela acrescenta: “Cada aluno tem seu tempo, suas fragilidades e potencialidades. Nosso papel é oferecer um espaço seguro, acolhedor e de escuta, para que cada jovem sinta-se valorizado e apoiado”.
A identificação de necessidade de ajuda nas escolas pode acontecer de diferentes formas: por meio do próprio relato, da observação de professores e colegas ou de mudanças de comportamento. Para isso, existe um protocolo de acolhimento, no qual o estudante pode procurar diretamente o psicólogo escolar ou ser encaminhado pela equipe gestora. “Observamos não apenas o relato espontâneo, mas também mudanças sutis no comportamento, nas relações com colegas e no rendimento escolar. A escuta qualificada nos permite agir de forma precoce e eficaz”, reforça Thalita.
“Nosso papel é contribuir para o fortalecimento da autoestima, da convivência saudável e dos recursos internos dos jovens para enfrentar os desafios dessa fase. Quando a escola abre espaço de escuta e acolhimento, ela salva vidas”, completa a psicóloga. Ela ainda observa que, mesmo com desafios, o trabalho contínuo já apresenta resultados positivos: “Desde o início do programa, conseguimos perceber melhorias na convivência entre estudantes, maior empatia e respeito e um clima escolar mais acolhedor”.
A Seduc ressalta que a prevenção começa no diálogo dentro da escola e, principalmente, em casa. Conversar sobre sentimentos, acolher fragilidades e buscar ajuda profissional diante de sinais de sofrimento emocional são atitudes fundamentais para proteger crianças e adolescentes. Em São Vicente, o apoio está disponível de forma gratuita nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Além disso, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento sigiloso pelo telefone 188, funcionando 24 horas por dia.
Dados - A importância desse cuidado nas escolas fica evidente no estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontando que, em 2022, a probabilidade de suicídio entre adolescentes de 10 a 19 anos foi 21% maior do que entre jovens adultos de 20 a 29 anos. O dado reforça a urgência de investir em prevenção e em espaços de acolhimento já na infância e adolescência.
Por Jéssica Costabile