Com 26 anos de experiência, sendo 20 deles dedicados à rede municipal de São Vicente, a professora Elaine Ferreira de Melo, 51 anos, representa a essência do Dia Nacional da Alfabetização, celebrado nesta sexta-feira (14). Atualmente, lecionando na UE Prof. Leonor Guimarães Alves Stoffel (Samaritá), ela se prepara para a aposentadoria com o sentimento de missão cumprida – e muitas histórias para contar.
“Fiz técnico de enfermagem, mas entendi que não era para mim. Comecei a estudar, e fiz o magistério, comecei a fazer estágio. Fazia estágio em escola, e eu achava magnífico a professora com os alunos. Esse vínculo com em sala de aula é muito especial. Sou muito grata por isso. Estou contando os dias para me aposentar, mas com o coração cheio de gratidão”, compartilha.
Ao longo das duas décadas na rede, Elaine acompanhou mudanças no ensino, mas destaca que alfabetizar segue sendo um desafio que começa ainda na Educação Infantil e exige atuação conjunta entre escola, família e equipe pedagógica. “O processo começa lá atrás. Sempre que chega um aluno novo na minha sala, eu faço a sondagem para entender em que nível ele está, e, a partir disso, retomar o conteúdo necessário. Começo pelas sílabas, leitura, escrita espontânea, tudo para trazê-lo para o processo”.
Para ela, o foco principal é formar leitores e despertar o gosto pela leitura. “É isso que abre portas e desenvolve as habilidades para enfrentar o mundo. Eu digo para eles que choro junto, porque acompanhar a evolução é muito emocionante. A alfabetização não é fácil, você lida com as dificuldades dos alunos e também com a família. Mas quando você conquista a sala, conquista os pais também. E isso faz toda diferença”.
Entre tantos alunos, alguns transformaram sua trajetória profissional. Elaine lembra do primeiro dia em que foi informada de que teria um aluno cadeirante. “Eu nunca tinha trabalhado com cadeirante. O diretor disse que poderia me mudar de sala, mas eu quis aprender. Ele é meu aluno mais velho, tem 14 anos, e me ensinou muito. Ele estava no processo de alfabetização e evoluiu demais. É um menino carinhoso, já choramos muito juntos. É uma das histórias que eu guardo no coração”.
Outra experiência marcante foi com a inclusão de uma aluna autista severa. “No começo, ela era agressiva. Sou rígida, e nem todos os pais gostam disso, mas faz parte do meu jeito. Com o tempo, ela passou a entender a rotina, amadureceu e mudou completamente. Isso mostra que quando você estabelece combinados e acolhe, eles correspondem”.
Com o olhar de quem dedicou a vida à sala de aula, a professora aconselha quem deseja ingressar na educação:
“Não é fácil. Cada ano traz novos desafios. Mas, se você vem para a educação para formar cidadãos para o Mundo, disponha toda a sua vontade. Não é pelo descanso do sábado ou domingo. É algo que nasce em você. É dom. Você leva isso para a vida inteira. Quando olha para trás e vê tudo o que fez, o coração fica satisfeito. Venham com saúde, força, fé, o resto a gente constrói!”.
Data – O Dia Nacional da Alfabetização é celebrado em 14 de novembro, instituído em 1966 para marcar a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC). A data reforça a importância da alfabetização como base da transformação social e da redução do analfabetismo no país.
Alfabetização em São Vicente - São Vicente vem registrando avanços significativos em alfabetização, resultado de um trabalho estruturado da rede municipal. Recentemente, a cidade subiu para 5º lugar no ranking da Baixada Santista, segundo o Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).
A Secretaria de Educação (Seduc) da Cidade implementou programas como o “Alfabetizando”, aderiu ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada e ao Alfabetiza Juntos SP, e promoveu formação continuada para professores.
Por meio de avaliação diagnóstica, com o SAASV (Sistema de Avaliação para a Aprendizagem de São Vicente), mais de 25 mil estudantes da rede participam regularmente de testes para identificar dificuldades e guiar intervenções pedagógicas, com correção via inteligência artificial.
Além disso, a rede realizou encontros com gestores e professores para eixos pedagógicos como o “Diálogos pela Alfabetização”, e valoriza práticas pedagógicas inovadoras na alfabetização, destacadas no evento Boas Práticas do programa “Alfabetizando”.
Em reconhecimento aos resultados, 14 escolas vicentinas foram contempladas com o Prêmio Excelência Educacional em 2025 por superarem metas de alfabetização no Saresp. Além das crianças, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) também é valorizada no município. O projeto “Raízes e Rimas”, realizado pela UE Sebastião Ribeiro da Silva, uniu no primeiro semestre deste ano saberes populares e literatura de cordel, resultando em um livro autoral sobre plantas medicinais produzido pelos alunos.
A meta agora é consolidar essas conquistas, ampliar a formação docente e fortalecer as metodologias bem-sucedidas para garantir que 90% das crianças sejam alfabetizadas na idade certa até 2026.
Por Maria Fernanda Lopes