O filósofo e psicólogo Ailton Dias foi o quarto especialista a participar do Encontro de Educadores de São Vicente, conduzindo a palestra “Cuidar de si para cuidar do outro”, voltada especialmente aos profissionais de apoio escolar. Com ampla experiência na formação de professores e gestores, o palestrante abordou a importância do autocuidado e da escuta empática como práticas fundamentais para o equilíbrio emocional e o fortalecimento das relações dentro da escola.
Promovido nesta quarta-feira (14) pela Secretaria de Educação de São Vicente (Seduc), o ciclo de palestras é realizado pela primeira vez no formato on-line, reunindo mais de dois mil profissionais da rede municipal de ensino sob o tema “Convivência Real, Conexões Verdadeiras”. O evento propõe uma pausa reflexiva para que educadores redescubram o valor do diálogo, da escuta e da presença no ambiente escolar.
“Todo mundo que colabora com a educação, independentemente da função que exerce, tem méritos de educador”, afirmou Ailton, ao iniciar sua fala. Com essa frase, o palestrante deu o tom de uma conversa marcada pela valorização de todos os que fazem a escola acontecer — professores, gestores, agentes, cuidadores e estagiários — ressaltando que cada uma dessas partes é essencial na construção do todo.
Para o filósofo, o cuidado é um fio invisível que sustenta a vida, “algo que nos mantém de pé e organizados por dentro e por fora”. Citando pensadores como Martin Heidegger, Emmanuel Levinas e Michel Foucault, Ailton explicou que o cuidado é, ao mesmo tempo, uma dimensão do ser, uma ação ética e uma arte de viver. “Se para Heidegger o cuidado é o que nos constitui, para Levinas é o que nos torna éticos, e para Foucault, é uma arte — a arte de bem viver”, destacou.
Ao relacionar o tema à rotina escolar, Ailton reforçou que ninguém pode cuidar do outro se não aprender primeiro a cuidar de si mesmo. O ato de cuidar, em sua concepção, vai além do simples gesto de atenção: é uma escolha política e espiritual que envolve reconhecer limites, respeitar o próprio tempo e exercitar a empatia. “Cuidar de si é um ato ético e político. Quem não se escuta, quem não reconhece suas potências e fragilidades, dificilmente conseguirá escutar e acolher o outro”, afirmou, completando que o ser humano vive em um mundo de cansaço. “Parece que é bonito viver cansado. ‘Não parei um minuto hoje’, ‘não sentei para comer’, ‘não deu tempo de beber água’, ‘não deu tempo…’. Quem falou que é bonito não ter tempo? Se a gente se organizar direitinho, dá para trabalhar e dá para dormir, dá para trabalhar e descansar, dá pra cuidar de si e cuidar do outro. E nesse jogo a gente vai se construindo. Precisamos devolver a humanidade para a nossa vida”.
Encerrando a sua fala, o palestrante convidou os educadores a repensarem suas relações dentro e fora da escola. “O cuidado é a forma mais concreta de amor que o pensamento pode ter”. Ressaltou, ainda, que em um tempo de vínculos frágeis e relações utilitaristas, amar e cuidar são práticas que resgatam o sentido humano da convivência — exatamente o que propõe o tema central do encontro.
Quem não assistiu à palestra de Ailton Dias pode conferir o conteúdo completo no link https://www.youtube.com/watch?v=D69jfBKkDcg&t=3821s .
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Texto - Renato Pirauá