O som seco dos golpes, o suor escorrendo pela testa, o coração pulsando como um tambor. É nesse cenário que Harold Araujo encontrou seu lugar no Mundo — e o transformou em palco de conquistas. Natural de Itororó, no interior da Bahia, ele chegou a São Vicente ainda pequeno, aos 2 anos de idade, carregando nas malas um futuro que começava a ser moldado. Hoje, representa não só o município onde cresceu, mas, também, uma geração inteira que sonha alto.
Atual campeão brasileiro de boxe - competição organizada pelo Conselho Nacional de Boxe (CNB) - , na categoria meio-médio (66 kg), Harold se prepara para defender o cinturão neste sábado (5), na Arena Unimes (Rua Barão de Paranapiacaba, 15 - Encruzilhada - Santos). Ele chama a atenção não apenas pela técnica e garra, mas, também, pela juventude: com apenas 22 anos, já alcançou um patamar que muitos atletas não conseguem atingir.
“Graças a Deus, hoje eu consigo viver do boxe. Estou conquistando minhas coisas. O esporte me abriu muitas portas. Me ajudou não só enquanto atleta, mas enquanto pessoa”, relata.
Filho de Viviane Araujo, professora de capoeira, Harold cresceu envolvido com as artes marciais. Aos 19 anos, ingressou na Associação Catuense — que há uma década forma talentos gratuitamente, no Quarentenário. Começou no Muay Thai, passou pelo kickboxing, mas foi o boxe que fisgou seu coração.
“Treinei chute a vida toda, mas quando comecei a aprender a esquiva do boxe, falei: ‘Gostei disso, cara… bater na pessoa e não tomar soco”, brinca, bem-humorado.
A conquista do título nacional veio em novembro de 2023, após duas tentativas no circuito profissional, sem sequer ter precisado passar pela fase amadora. A preparação para a defesa do cinturão tem sido intensa, com treinos afiados, acompanhamento médico, suporte nutricional e orientação técnica.
“A gente vai para cima o tempo todo, mas, agora, estou focado também na parte defensiva, treinando bastante esquiva sem perder a essência da agressividade. Nosso estilo é puxado pro mexicano: bem ofensivo, mas mais consciente”, explica.
Mais que força física, Harold tem moldado a mente. Além dos treinos técnicos, investe no autoconhecimento e no equilíbrio emocional:
“O físico é importante, mas o psicológico comanda tudo. Se minha cabeça não estiver no lugar, nada adianta. Tenho trabalhado isso com muito foco”.
Na Catuense, onde tudo começou, ele se tornou referência para os novos atletas. Ivanildo Ferreira da Silva, presidente da associação, acompanha de perto a evolução do pugilista e destaca o poder transformador do esporte.
“Ele representa São Vicente. É uma inspiração real para a molecada”.
Uma das lutas mais marcantes de sua trajetória foi também uma das mais desafiadoras. Durante uma disputa de cinturão em Guarujá, Harold quebrou a mão ainda no início do combate. Mas não recuou. Lutou até o fim e nocauteou o adversário no nono round.
“Aquilo ali não foi só uma vitória no ringue. Foi pessoal. Inexplicável, coisa de filme mesmo. E em seis meses ele já estava lutando novamente. É um sonho para todos nós. Imagina ver todos os esforços dando frutos”, relembra Ivanildo.
Para ele, o exemplo de Harold é ainda mais poderoso por ter surgido de forma acessível:
“E tudo começou de graça. Então, por que não oferecer isso gratuitamente? É um bom exemplo. Às vezes, o que falta é só dar uma oportunidade pra quem realmente quer. Basta uma chance. Olha o que ele está se tornando. Um garoto que saiu da nossa associação e vai representar São Vicente não só no Brasil, mas, se Deus quiser, no Mundo”.
E para as crianças que sonham com os ringues, o conselho é direto:
“Indico bastante o boxe. Ou qualquer outro esporte de contato. Eles transformam vidas. Ajudam não só a ser atleta, mas uma pessoa com valores e disciplina. O esporte é isso”.
Neste sábado (6), o atleta de São Vicente sobe novamente ao ringue com um só objetivo: defender o título brasileiro de boxe diante de todo o país. Harold Araujo encara Victor de Oliveira em mais uma disputa de gigantes, na categoria meio-médio (66 kg). O atleta leva consigo não apenas a força nos punhos, mas também a história que carrega e a torcida de uma cidade inteira.