A Unidade Escolar Carolina Dantas realizou nesta sexta-feira (28) o encerramento das atividades do projeto “Hip Hop nas Escolas”, iniciativa que integra diferentes linguagens da cultura urbana e que, ao longo do ano, promoveu oficinas, vivências e apresentações envolvendo estudantes do 8º e 9º ano. A ação, pioneira na rede municipal, consolidou-se como um espaço de formação artística, cidadã e socioemocional, reforçando o potencial transformador do hip-hop dentro da escola pública.
No encontro, os estudantes participaram de uma roda de conversa na qual foram abordados os conceitos sobre o movimento e elementos que caracterizam sua identidade, como, por exemplo, o break, fortalecendo vínculos e estimulando a revelação de novos talentos.
Para Suzana Azar, oficineira de moda sustentável do programa, o avanço obtido em 2025 representa um marco na consolidação do projeto. “Esse ano conseguimos implementar o que queríamos. Esse processo é muito rico, porque a gente aprende tanto quanto ensina”. Trabalhando a sustentabilidade por meio da moda, Suzana explica que a proposta ultrapassa o campo estético e toca dimensões sociais e culturais da comunidade escolar. “A moda mais sustentável é aquela que já existe. E aqui eu fiquei boba: algumas alunas já customizam suas próprias roupas. A periferia, por necessidade, muitas vezes é mais sustentável do que quem tem poder de compra. E isso tem tudo a ver com o hip-hop, que nasce na margem e cria sua própria estética, sua própria identidade”. Segundo ela, trabalhar esse conteúdo com crianças e adolescentes fortalece autoestima e pertencimento. “Vamos valorizar o que é nosso. A estética periférica hoje domina o mundo. É muito legal falar isso com eles, que estão justamente na fase de construção da própria identidade.”
O projeto é co-organizado por Bruno Mente Sagaz, rapper, sociólogo e ativista do movimento hip-hop. Ele destaca que o Brasil é o primeiro país do mundo a transformar o hip-hop em política pública, por meio da Lei nº 11.784/2023, marco do qual participou. Para Bruno, a presença do movimento nas escolas vai muito além da expressão artística. “O hip-hop transforma-se em uma ferramenta pedagógica e um instrumento de mediação de conflitos, trazendo cultura de paz e contribuindo para diminuir a evasão escolar”.
Ao explicar a metodologia das oficinas, Bruno ressalta como cada elemento da cultura urbana dialoga diretamente com as disciplinas do currículo. “O rap trabalha ritmo, poesia, português, história e geografia. O grafite está dentro da educação artística. O break é modalidade olímpica e se conecta com a educação física. Ser DJ envolve matemática e física. Tudo se relaciona com o que o aluno já estuda”. Ele reforça ainda que a ampliação do projeto integra esforços legislativos municipais para garantir espaço permanente para o hip-hop no Plano Plurianual, na LDO e na Lei Orçamentária Anual. “Já passou do tempo de termos o hip-hop como política pública em todas as escolas”.
A potência da iniciativa aparece de forma clara nos relatos dos estudantes. Zack, 15 anos, aluno do 9º ano, descreve o impacto pessoal do projeto e a relação afetiva com o hip-hop herdada da família. “Meu avô escutava Racionais e Sabotage. Fui influenciado por eles e pelos meus irmãos. Quando o projeto chegou ao Carolina Dantas, em 2023, eu queria muito participar. Agora que abriu para o 8º e 9º ano, fiquei muito feliz. Eu vi os alunos grafitando e se apresentando e pensava: ‘quero isso pra minha vida’. Faço arte desde os 12 anos, escrevo meus sentimentos e quero um dia ser cantor e publicar um livro.”
Júlia, também de 15 anos, destaca a profundidade dos conteúdos trabalhados nas oficinas. “O professor nos deu repertório musical e cultural, mostrando que o hip-hop não é algo fechado, mas abrangente para todos os públicos. Ele ensinou sobre indígenas e aborígenes, sobre diversas culturas. Eu sempre gostei de poesia e escrita, então me identifiquei muito. O hip-hop pode te transformar muito mais do que parece e você pode ser artista de verdade com ele”. Para a estudante, o impacto social também é significativo. “Somos uma escola periférica. É muito importante mostrar cultura para diferentes camadas da sociedade e incluir todo mundo. O projeto faz exatamente isso”.