“Não sei em que lugar estou, mas sei onde quero chegar”. O primeiro verso da música “O corre”, da banda vicentina Caizara, define bem, não somente a sua trajetória, mas todo o conceito contracultural que é o Rock and Roll, que desde os anos 1950, se tornou um símbolo que inspira e influencia pessoas globalmente, representando a liberdade e a expressão. E neste 13 de julho, Dia Mundial do Rock, é hora de sintonizar os valores desse movimento musical com a energia de São Vicente, através do perfil de um grupo de cinco jovens, que, de acordo com eles próprios, são feitos de “amor e coragem para seguir em frente, coragem para manter a essência e fazer o que se ama, mesmo que diferente”. Conheça a trajetória da banda vicentina Caizara.
“Nem o impossível pode duvidar de mim”. A história da banda nasceu de uma conexão natural entre os integrantes, que, antes mesmo de formarem o grupo atual, já traziam na bagagem vivências musicais distintas e experiências com outras formações. Em meio aos encontros que o destino orquestra como uma poesia alternante, surgiu a Caizara, após cada um seguir novos caminhos fora das antigas bandas. O nome carrega o DNA da origem do grupo: inspirado na palavra “caiçara”, recebeu um toque moderno com a letra “Z”, representando a proposta de um som mais urbano, atual e influenciado pelo rock.
Atualmente, é sobre as cordas vocais de Sabrina Maria que a vibração se transforma em uma mensagem poderosa de empoderamento, que carrega nas costas o peso de ser uma vocalista feminina. Juntamente com outras mulheres que compõem a banda, a guitarrista solo “Duda” Pavarini e a baterista Lisandra Duarte, mostram que o rock é de todos. Leonardo Fernandes, guitarrista/rapper, e o baixista Luiz Rocha complementam em uma singularidade sonora mágica.
“Entre fases e tempestades, vou viver e aprender”. Durante a trajetória de quase dois anos da banda, foram muitos altos e baixos. Desde a época em que faziam cover de NX Zero e CPM 22, até a empreitada de produzir músicas autorais, os fizeram questionar o seu propósito. Ser uma banda independente no Brasil é, antes de tudo, um ato de resistência. A cada cinco minutos, surge a dúvida: será que ainda dá pra continuar? Os desafios são muitos, desde o alto custo dos equipamentos até a dificuldade de fechar shows e conciliar agendas. A burocracia para lançar uma música chega a parecer maior do que o próprio processo criativo. Mas, no meio desse caos, a Caizara encontrou força no amor pela música. Foi no primeiro show profissional, num bar chamado Mucha Breja, que veio a expectativa por dias melhores. “Talvez a gente tenha algo aqui”. A recepção calorosa do público e a sensação de finalmente abrir uma porta por conta própria foram marcantes. Outro momento inesquecível foi o lançamento da primeira música, “O corre”. Atravessar toda a burocracia, vencer as amarras técnicas e ver o nome da banda com direitos autorais garantidos nas plataformas digitais trouxe uma alegria indescritível. Hoje, a Caizara segue firme, guiada pelo propósito maior que tudo: transformar desafios em som, e som em conexão.
“Se você tem um sonho, então corra atrás”. A primeira música do Caizara, intitulada “O corre”, nasceu com o forye propósito de inspirar. A ideia era passar uma mensagem de superação, de que tudo é possível, realizar um sonho mesmo quando tudo parece jogar contra. No meio artístico, é comum ouvir aquela velha pergunta: “mas você trabalha com o quê?”, como se viver de música fosse uma ilusão. De fato, é difícil entrar e se manter nessa indústria. Mas “O corre” veio pra dizer que, apesar dos obstáculos, vale a pena correr atrás do que faz sentido pra você. A música O Corre começou a ser construída a partir de riffs (progressão de acordes) criados por Ajoota (ex-integrante da banda). A partir dessa base, Léo, guitarrista da banda, e os demais integrantes desenvolveram a letra aos poucos, em parceria, com cada um colocando um pouco de si na melodia.
O processo de gravação veio no ano seguinte e foi intenso. Com novos membros, foi preciso transmitir toda a essência da canção para quem estava chegando. Foram muitos takes, paciência e dedicação, até que o primeiro single ficou pronto. Quando “O corre” finalmente chegou às plataformas digitais, a sensação foi de vitória. Um lembrete de que, mesmo na correria da vida, é possível transformar sonhos em realidade, com persistência e paixão. “Se eu tivesse que resumir nossa música em poucas palavras, seria superação e coragem”. Ressalta a vocalista da banda, Sabrina Maria.
“O que eu quiser eu busco, eu sou assim”. A mensagem da primeira música se entrelaça perfeitamente com a vida pessoal de cada membro e, no meio de tudo isso, também há representatividade. Ser vocalista mulher, jovem, em um espaço ainda dominado por homens exigia o dobro de esforço, como conta a vocalista Sabrina: “No começo, a insegurança batia forte. Apesar de já ter cantado desde criança e ter feito aulas, faltava prática. E, como mulher, havia a constante pressão de ter que ser ‘melhor que os outros’ para provar que merecia aquele espaço. Mas foi justamente essa cobrança que virou combustível. O esforço virou evolução, e a evolução virou conquista”.
Sobre as perspectivas futuras, ela comenta: “Pretendemos seguir com a música. Queremos estourar com a banda, lançando álbuns, fazendo turnês, muitos shows em várias regiões do Brasil, quem sabe até em um festival, e trabalhando com o que eu amo. Enquanto isso, seguimos com esse sonho, trabalhando muito com o que temos e dando um passo de cada vez até chegar lá”.
Todas as aspas no início de cada parágrafo são trechos da música “O corre”, disponível em:
O que a Caizara significa para você?
O guitarrista Leonardo Fernandes comenta: “A Caizara pra mim é o que eu sou, meu estilo de vida, pegar a ciclovia, correr pra praia, o sol, a positividade, coisas que só quem vive na baixada tem, essa calmaria, além da cidade, a correria, a evolução diária, com metas e objetivos, as responsabilidades, enfim, o que eu vivo e o que sou!”.
“A Caizara pra mim é mais que uma banda, é companheirismo, é onde me sinto completa e consigo me expressar através do som. Cada ensaio, cada show e cada som que fazemos carrega um pedaço de mim. É isso que quero ter no meu futuro, quero seguir com a música e crescer”, diz com animação a outra guitarrista, “Duda” Pavarini.
Para o baixista Luiz Rocha, a banda representa uma família. "A gente tem momentos bons, momentos ruins, mas a gente sempre se resolve e segue em frente, sempre melhorando e se reinventando da melhor forma possível, sempre se ajudando”.
“Fazer parte de uma banda é muito diferente do que a gente imagina de primeira, porque é bem diferente fazer arte sozinho e fazer arte em conjunto. Eu sinto que te potencializa muito mais. Te ajuda a encontrar a sua própria voz, entender quem você é e se sentir à vontade para expressar isso. E é maravilhoso, porque isso realmente vai adentrando a sua vida e vai transformando quem você é", completa a baterista Liz Duarte.
Vocalista e rosto da banda Sabrina Maria, resume o sentimento de todos. “O Caizara é a nossa vida, nossa motivação, ela é uma parte de todos nós”.
Por - Luis Gomes