Na última sexta-feira (30), o bairro Jóquei Clube, em São Vicente, foi palco do lançamento do documentário voltado à memória dos bairros periféricos da cidade. Intitulado ‘Pra Gente Não Esquecer’, a obra destaca as vivências e os relatos de mulheres que fizeram parte da construção de territórios vicentinos, valorizando a história da periferia sob a perspectiva de quem a vive no cotidiano.
A produção é assinada pelo Coletivo Olhar Marginal, grupo formado por Andrey Haag, Fernando Gois, André Souza, Madu Barbosa, Mariana Menezes e Luiz Marq’s, com realização por meio da Lei Paulo Gustavo e apoio da Secretaria de Cultura de São Vicente (Secult).
O documentário adota o formato de cinema participativo, reunindo relatos, álbuns de família, registros fotográficos e memórias pessoais cedidas pelas próprias moradoras, que também participaram ativamente do processo de pesquisa e construção da narrativa.
Além de exibir as histórias de quem protagonizou a ocupação e desenvolvimento dos bairros, a obra se propõe a ser utilizada como material pedagógico nas escolas de São Vicente, incentivando debates sobre memória, identidade, pertencimento, ancestralidade e história local.
Para Madu Barbosa, uma das integrantes do coletivo e da equipe de produção, o trabalho carrega uma dimensão pessoal e coletiva. “O processo de pesquisa sobre os retratos periféricos de São Vicente tem conexão direta com a história da minha família que, como muitas daqui, vieram do Nordeste em busca de oportunidades. Produzir o documentário Pra Gente Não Esquecer concretiza um sonho que não é só meu, mas da minha família e de todas as pessoas presentes no processo do filme, pois as memórias se encontram e se eternizam nesse lugar mágico que é o audiovisual, fazendo com que esse acervo e sua oralidade não se percam nos caminhos da vida, vida essa atravessada por tantas violências. Mapear e registrar essas histórias é respeitar quem constrói cotidianamente a nossa região, é descobrir nesses materiais um passado potente presente nas ruas e vielas e dar nome aos percalços e felicidades, evidenciando uma coisa só: o futuro é coletivo e o passado dos nossos territórios tem muito a nos ensinar”, destaca.
O coletivo idealizador atua desde 2020 na Baixada Santista, com foco no fortalecimento da produção artística periférica. As obras dialogam com temas como resistência, cultura, abandono do Estado, ancestralidade e memória, sempre a partir de um olhar interno, construído por artistas que fazem parte desses territórios.
‘Pra Gente Não Esquecer’ surge como uma ferramenta de valorização das narrativas periféricas, reafirmando a potência cultural, estética e social dos bairros que, historicamente, são fundamentais para o desenvolvimento da cidade.