Celebrado neste sábado, 28 de junho, o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ marca a resistência e a luta por direitos da comunidade em todo o mundo. A data faz referência à Revolta de Stonewall, que ocorreu em 1969, em Nova York, quando frequentadores do bar Stonewall Inn — um espaço de encontro da população LGBTQIA+ — enfrentaram a repressão policial e deram início a uma série de protestos que se tornaram símbolo do movimento. Desde então, o 28 de junho representa a luta contra o preconceito e a busca por dignidade, visibilidade e respeito às diversas identidades de gênero e orientações sexuais.
Essa luta, que começou nas ruas, segue viva até os dias de hoje na trajetória de milhares de pessoas que enfrentam o preconceito e a invisibilidade para viverem sua verdade. É o caso de Luam Bernardo, de 26 anos, morador de São Vicente, que constrói sua identidade com coragem e perseverança, apesar dos obstáculos que encontrou e ainda encontra pelo caminho.
Desde muito cedo, Luam sabia que não se reconhecia no corpo que lhe foi imposto. Aos 15 anos, viveu a angústia causada pela disforia de gênero (sentimento de angústia ou sofrimento causado pela incongruência entre a identidade de genero de uma pessoa e o sexo que lhe foi foi atribuido ao nascer) e pediu à mãe que o levasse ao médico para tentar, ao menos, reduzir os seios. Por ser menor de idade, não conseguiu seguir com o processo naquele momento. Precisou esperar até alcançar a maioridade para, por conta própria, dar início à sua transição (processo que envolve a adequação da aparência e apresentação de uma pessoa ao seu gênero).
Em 2017, procurou uma Unidade Básica de Saúde (UBS), foi atendido por um clínico geral e encaminhado ao endocrinologista. Com o tempo, iniciou o processo de retificação do nome — uma etapa burocrática, emocionalmente desgastante e financeiramente exigente. Também começou o acompanhamento psicológico, exigido para a hormonização (hormônios masculinos).
Mesmo com todos os encaminhamentos em dia, enfrentou mais uma barreira: a recusa inicial para sua cirurgia de redesignação torácica. Só com apoio jurídico conseguiu o direito de entrar na fila do procedimento, onde aguarda há quatro anos.
Hoje, com 1 ano e 4 meses de tratamento hormonal, segue em acompanhamento pela UBS e conta com o suporte de uma Agente Comunitária de Saúde, figura fundamental para orientar e facilitar os encaminhamentos, exames e liberações.
“Já são quase dois anos de acompanhamento psicológico. Agora, espero ansiosamente pela liberação. Estou pronto”, afirma Luam, com a tranquilidade de quem já enfrentou o mais difícil: não desistir de ser quem é.
Além disso, Luam é acompanhado e assistido pela Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Vicente (Sedhc) através do ‘Ambulatório Trans’, serviço que oferta para mulheres e homens trans acima dos 18 anos, acompanhamento terapêutico, atendimento social, acesso à empregabilidade, oferta de cursos profissionalizantes, retificação do nome social e gênero, acesso à documentação civil (RG e Certidão de Nascimento) e combate à transfobia. Os atendimentos podem ser agendados, presencialmente, na Rua José Bonifáio n° 404, 1° andar (Centro) ou pelo e-mail sedhc.saovicente@gmail.com.
Histórias como a de Luam Bernardo lembram que o orgulho não é apenas uma celebração — é também resistência cotidiana. É sobre ocupar espaços, garantir direitos, buscar saúde, dignidade e, sobretudo, o direito de existir plenamente. Neste 28 de junho, o orgulho continua sendo um ato político, mas também um gesto de amor-próprio e afirmação de vida. Que vozes como a de Luam ecoem cada vez mais alto, inspirando respeito, empatia e transformação social.
Serviços ofertados pela SEDHC para o público LGBTQIAPN+:
1) Ambulatório Transexualizador;
2) Atendimento Social;
3) Acompanhamento terapêutico ao público LGBT;
4) Balcão de Violação de Direitos Humanos;
5) Formativas sobre Diversidade;
6) Realização de cursos e qualificações;
7) Busca por empregabilidade;
8) Criação do Conselho Municipal de Políticas LGBTS - CONLGBT;
9) Realização de eventos e palestras para o público lgbt;
10) Fomento à projetos sociais sobre Diversidade com recursos do Fundo Municipal do CMDCA;
11) Acesso à documentação civil;
12) Mutirões de Retificação do Nome Social e Gênero.
Por Rafael Dias