Se é verdade que cada profissão tem sua linguagem, Rosimar Carvalho escolheu uma que vai além das palavras. Intérprete de Libras na Prefeitura de São Vicente, ela é a ponte que conecta vozes e silêncios, tornando visível o que, para muitos, ainda passa despercebido. Neste 24 de abril, Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), o trabalho de Rosimar ganha o merecido destaque: é pelas mãos dela que a informação encontra novos caminhos, rompendo barreiras e promovendo pertencimento.
Há mais de 15 anos, a tradutora se viu diante de uma oportunidade quase por acaso. Uma amiga fez um curso de Libras e a chamou para acompanhar. Ela aceitou — e nunca mais parou. O que começou como um gesto espontâneo de curiosidade virou missão de vida. E com isso, iniciou sua caminhada em Minas Gerais, atuando como voluntária em sala de aula. Mais tarde, em São Paulo, ingressou como interlocutora pela Secretaria de Educação do Estado. Hoje, é concursada pela prefeitura de São Vicente e apaixonada pela profissão que abraçou com alma.
Sua formação foi crescendo junto com o amor pelo ofício: do curso básico ao avançado, pós-graduação em Libras e, atualmente, cursando Letras-Libras. Mas o que mais a moldou, ela afirma sem hesitar, foi a convivência com os surdos. “É no dia a dia que a gente entende o quanto a acessibilidade ainda precisa avançar”.
Na rotina da Prefeitura, Rosimar é presença constante em eventos oficiais. Chega mais cedo, estuda previamente o cerimonial, escolhe o melhor ponto para ser vista e prepara a “glosa” — anotações que garantem a fidelidade da interpretação. “Cada detalhe importa, porque é por meio de mim que a informação chega aos surdos”.
Nem sempre é fácil. Já enfrentou situações desafiadoras em eventos, mas aprendeu a responder com naturalidade. É essa tranquilidade que a torna uma ponte segura entre falas e sentidos. Para ela, a presença de intérpretes não é um diferencial, e sim um direito. “Sem a gente, os surdos estão no meio da multidão sem entender nada. A inclusão começa por ser visto e ouvido, de alguma forma”.
Com emoção, ela diz que o que mais a motiva é ver o conhecimento, a cultura e até o entretenimento chegarem aos surdos pelas suas mãos. Um dos momentos mais marcantes de sua vida foi ver João Paulo, um surdo que ela acompanhou como voluntária, concluir o Ensino Médio. “Ali percebi que estava no caminho certo”.
Hoje, como profissional concursada, Rosimar se sente realizada — e ainda mais comprometida. Para os jovens que sonham em seguir esse caminho, ela deixa um recado direto, como quem sabe o que diz: “Acessibilidade já. Os surdos te esperam!”
E neste Dia Nacional da Libras, convida todos a refletirem sobre o papel da comunicação como direito. “Libras é expressão, é vida, é lei. Que possamos aprender, respeitar e celebrar essa linguagem que une mundos. Surdos e ouvintes podem, e devem, se encontrar”. Porque quando Rosimar entra em cena, a cidade fala com todos. E é impossível não escutar, mesmo em silêncio.
Por Jessica Costabile